Um aviso do chefe do comitê militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o almirante holandês Rob Bauer, de que os países que compõem a aliança militar estão se preparando para um enfrentamento em larga escala com a Rússia, elevou ainda mais a tensão pelo mundo, diante do temor de que os conflitos em andamento escalem a ponto de se tornarem uma guerra generalizada. Em entrevista coletiva, ele entregou uma mensagem contundente, enfatizando que a paz não deve ser considerada garantida.
"Não estou dizendo que dará tudo errado amanhã, mas temos que perceber que não é certo que estejamos em paz. E é por isso que estamos nos preparando para um conflito com a Rússia e com os grupos terroristas", disse o militar. O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, ecoou essas preocupações, alertando que a guerra na Ucrânia pode se espalhar para países vizinhos, citando ameaças do Kremlin contra os Estados Bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — e afirmando que uma guerra com a Rússia está no horizonte da Europa na próxima década. "Os nossos especialistas acreditam que, em um período de cinco a oito anos, isso poderá ser possível." O aviso também encontrou ressonância na Suécia, onde o ministro da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, disse numa conferência que "poderia haver guerra no país" — que pediu entrada para a Otan, junto da Finlândia, na esteira da invasão da Ucrânia.
O alerta não ficou só no campo retórico. A Otan está prestes a iniciar seu maior exercício militar desde a Guerra Fria. O Steadfast Defender 2024 vai começar em fevereiro e durar até maio, com a previsão de mobilizar 90 mil tropas, 50 navios, 80 aeronaves, entre aviões, helicópteros e drones, e mais de 1.100 veículos blindados. A manobra massiva busca intimidar o regime do presidente Vladimir Putin, que segue engajado na invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia que, agora, se aproxima do seu segundo aniversário.
A urgência de preparação em escala global também pode ser entendida como um recado dos países europeus ao seu maior e mais forte protetor, os Estados Unidos. Envoltos nos seus problemas domésticos, os EUA não têm dedicado a atenção que os seus aliados do outro lado do Atlântico gostariam para a incursão militar de Putin na Ucrânia, e nem para os outros conflitos, como a crescente escalada no Oriente Médio envolvendo o Irã.
Como as primárias do Partido Republicano no estado de Iowa deixaram claro, o ex-presidente Donald Trump certamente será o rival do atual mandatário, o democrata Joe Biden, nas eleições pelo comando do país em novembro. Se não for parado por seus problemas com a Justiça, já que ele é suspeito de incitar um golpe de Estado frustrado em 6 de janeiro de 2020, quando Biden tomou posse, Trump é o franco favorito para retornar à Casa Branca a partir de 2025, com consequências graves para a estabilidade mundial.
Em primeiro lugar, ele já declarou que os EUA deveriam parar de gastar verba militar com a Otan, o que causa arrepios nos países da Europa Ocidental, que certamente ficarão desprotegidos caso isso ocorra. Além disso, ele mantém uma relação amistosa com Putin e declarou que poderia "encerrar a guerra em 24 horas" caso fosse eleito, o que foi entendido no mundo — e, principalmente, na Ucrânia — como um recado de que fecharia um acordo reconhecendo o direito da Rússia sobre os territórios ocupados no país vizinho, o que seria uma derrota para as nações aliadas e uma vitória inconteste para o regime de Moscou.
Diante dessas tensões crescentes, a comunidade internacional deve permanecer vigilante. As consequências de uma guerra em larga escala causariam um impacto na estabilidade e na segurança global, incluindo repercussões severas no Brasil. Resta ao mundo aguardar por um momento de calma e lucidez que leve a uma solução pelas vias diplomáticas dos atuais conflitos e baixe a fervura das demonstrações de força entre a Otan e a Rússia, sob o risco de uma ameaça ao futuro de todos.
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