» Valdinei Valério, presidente do Instituto Promover e mestre em ciências sociais pela Universidade Nacional de La Matanza
A inteligência artificial (IA) vai muito além do ChatGPT. Ao analisarmos o sentido dessa frase, podemos observar que qualquer processo evolutivo de conhecimento passa, predominantemente, pela tecnologia e pelo avanço dela. O que vimos em 2023, com o surgimento da ferramenta de criação de textos, e também com Midjourney, um gerador de imagens, foi uma avalanche de questionamentos sobre o futuro do conhecimento.
É imperativo que as plataformas de IA vieram para ficar, mas devemos tratar todo esse processo com comedimento, além de separar o que é evolução no ensino-aprendizagem e as formas de aquisição de conhecimento, pois os próprios especialistas nesses chamados chatbots, como o ChatGPT, os classificam como sendo uma espécie de papagaio que repete o que foi inserido em seu banco de dados.
A partir disso, começamos a zelar, principalmente durante a formação dos jovens, para que as ferramentas não sejam cerceadoras do processo criativo ou da formação do conhecimento genuíno. Não podemos correr o risco ou entrar em um espiral de "emburrecimento" da nossa juventude. Esse é o ponto para iniciarmos os estudos e debates sobre o impacto da inteligência artificial nos processos formadores.
A qualidade do aprendizado, em especial no Brasil, tem ligado há alguns anos, com reforço após a pandemia, um alerta. E isso não é um discurso vazio e genérico. Os índices básicos, como do ensino da língua portuguesa e matemática, são preocupantes. E se a formação dos jovens enfrenta esse impacto dentro das salas de aula tradicionais, mesmo com o esforço de professores para tentar driblar as dificuldades, o que esperar do futuro do jovem que não precisa mais realizar pesquisas, treinar a escrita, aprimorar o conhecimento se uma ferramenta traz conteúdos prontos e, teoricamente inéditos?
Precisamos encontrar uma fórmula em que haja a convergência entre o conhecimento genuíno com o que vem da inteligência artificial. É nítido que vivemos um processo muito complicado, em especial para nós que já precisamos nos esforçar diariamente para acompanhar a evolução tecnológica das máquinas, das profissões e dos avanços que ainda não sabemos como serão. É preocupante e pouco tem se falado sobre o assunto.
Como integrante dos grupos de discussão do G20 e membro de uma organização da sociedade civil com foco na formação e inclusão, acreditamos que a solução imediata para o aproveitamento correto da inteligência artificial no processo de formação e aprendizagem é trazer pensadores e conhecedores do tema, juntamente com professores e entidades educacionais, para o debate do impacto da IA no ensino.
Um dos criadores do ChatGPT, Sam Altman acredita que, em 10 anos, teremos chatbots que funcionarão como especialistas em qualquer domínio que desejarmos. Assim, será possível perguntar o que precisar a um médico especialista, a um professor, a um advogado e fazer com que esses sistemas realizem coisas para nós. Isso também é preocupante, pois vai além da simples consulta ou construção de um texto acadêmico. Além de interferir no futuro das profissões.
E é a partir desse ponto que lembramos que o jovem não sabe o que vai ser no amanhã, pois é imprevisível o ponto em que vai chegar a inteligência artificial. O aprendiz, que faz parte da juventude que estuda e adentra ao mercado de trabalho em seu primeiro emprego, é apenas um elo desses profissionais do futuro, da cadeia produtiva, que tem de se adaptar ao processo tecnológico que vem sendo construído, mas que tem se acelerado.
E a iniciação dos jovens, muitos com insegurança profissional imensa, necessita de preparação e apropriação do processo de formação, com foco na tecnologia. Não é um simples curso de programador ou o que chamávamos de informática, mas da aprendizagem com aprofundamento no uso das tecnologias. Nesse ponto, a inteligência artificial pode auxiliar na personalização das ferramentas que serão fornecidas dentro de cada área.
A plataforma Startse publicou, recentemente, cinco profissões do futuro a partir da inteligência artificial: engenheiro de machine learning, cientista de dados, engenheiro robótico, pesquisador de IA e eticista de IA. Esta última ligada à questão ética, que envolve plágio, compliance das empresas e muitos outros pontos nevrálgicos, que já geraram, inclusive, processos de direitos autorais.
Mas e o que devemos fazer para que nossos jovens cheguem a esse futuro preparados? Até que ponto o avanço da inteligência artificial como conhecemos hoje pode ajudar ou atrapalhar esse caminho tão incerto? O certo é que as discussões sobre o tema precisam sair das telas dos computadores e ir para as mesas de especialistas dos dois campos: da IA e da educação.
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