Guerras

Precisamos de paz

A campanha militar de Israel visa desmantelar a capacidade militar e decapitar a liderança do Hamas. No entanto, parece ter sido impulsionada mais pelo fígado do que pelo cérebro dos governantes e comandantes militares do Estado judeu

Imagem da Faixa de Gaza feita do lado israelense da fronteira com o enclave: destruição sem precedentes  -  (crédito: Jack Guez/AFP)
Imagem da Faixa de Gaza feita do lado israelense da fronteira com o enclave: destruição sem precedentes - (crédito: Jack Guez/AFP)

2024 começa com poucas perspectivas de cessar-fogo no Oriente Médio e na Ucrânia, além de retórica belicista na Península Coreana. Cerca de 22 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas, foram mortos em 88 dias da guerra de Israel contra o grupo extremista que controla — ou controlava — a Faixa de Gaza. Todos os dias, as bombas israelenses e os combates no enclave matam cerca de 250 palestinos, sem distinção. São pais, mães, crianças, avós. Pessoas de amores, planos, sonhos de viverem sob um Estado independente e soberano, que almejavam a paz duradoura que jamais tiveram.

A campanha militar de Israel visa desmantelar a capacidade militar e decapitar a liderança do Hamas. No entanto, parece ter sido impulsionada mais pelo fígado do que pelo cérebro dos governantes e comandantes militares do Estado judeu. Um ato para vingar o abjeto, injustificável e deplorável massacre cometido pelo Hamas na manhã de 7 de outubro em cerca de 20 kibbutzim, em cidades e em estradas do sul do país. Mais de 1.200 istaelenses foram executados por cerca de 2 mil extremistas que realizaram uma invasão por terra, ar e mar. No momento em que israelenses celebravam o réveillon, o Hamas lançava uma barragem de foguetes contra Tel Aviv.

A invasão unilateral, absurda e também injustificável da Rússia, de Vladimir Putin, à Ucrânia, de Volodymyr Zelensky, parecia destinada a forçar uma mudança de governo e transformar a ex-república soviética em títere de Moscou. A guerra tecnológica — também travada com ataques massivos de drones carregados de explosivos — expôs a fragilidade do Exército russo, que esperava tomar Kiev em três dias, no máximo uma semana, e sofreu baixas consideráveis.

Tudo o que Putin conseguiu foi atrair a antipatia da comunidade internacional, criar um sentimento pró-Ucrânia e aproximar o país de Zelensky de se tornar membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia (UE). Em 24 de fevereiro, a guerra terá completado dois anos sem que Putin tenha conseguido seu intento. Desmoralizado, se anunciar um cessar-fogo, um armistício ou um plano de paz, o "czar da era moderna" correrá o risco de perder o poder e o prestígio entre os oligarcas. Sua sanha belicista deixa o mundo em suspense — um míssil errante que atingir um país-membro da Otan na região pode deflagrar um.conflito internacional.

Na Ásia, os tambores da guerra ecoam na Peninsula Coreana. O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, ordenou ao seu exército que se prepare para um conflito contra a Coreia do Sul. Estive na Zona Desmilitarizada, a fronteira entre os dois países, alguns anos atrás, e a visão de casamatas, de viadutos erguidos no meio do nada — recheados de explosivos — e de tanques é uma memória da guerra de 1950. Em três anos, 3 milhões de pessoas foram mortas nos combates entre as forças de Seul e de Pyongyang. Sem assinatura de um tratado de paz formal, os dois países estão, tecnicamente, em.guerra. Um novo conflito militar direto teria proporções avassaladoras: a dinastia Kim fabricou sua bomba atômica e modernizou seus mísseis balísticos; o Exército sul-coreano, impulsionado pela parceria com os Estados Unidos, tornou-se mais poderoso e tecnologicamente avançado.

Há quem diga que a China esteja na iminência de atacar Taiwan, a ilha capitalista e democrática que Pequim considera rebelde e separatista. Uma ofensiva militar provavelmente levaria a uma intervenção dos EUA, simpáticos à causa de Taiwan, e a uma escalada de um conflito também imprevisível. Nos últimos anos, aviões chineses realizaram manobras intimidatórias sobre o Estreito de Taiwan. Quando estive na ilha asiática, percebi uma população satisfeita com o atual status quo e ávida por uma vida de tranquilidade, trabalho e prosperidade. O mundo precisa de paz. Que em 2024 a força das armas seja superada pela sensatez — se é que ainda exista — de governantes convertidos em senhores da guerra. Que consigam perceber que a vingança, a sanha expansionista e o ódio apenas trazem dor, destruição, horror e medo.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 03/01/2024 06:00
x