O futebol brasileiro era samba de um golzinho só na alegria ou na tristeza em finais do Mundial de Clubes da Fifa. Agora nem isso. A derrota do Fluminense por 4 x 0 para o Manchester City abre um debate necessário sobre a necessidade de os nossos clubes e a Seleção reaprenderem a encontrar o caminho da rede em confrontos de altíssimo nível, como o de ontem, diante do detentor da Champion League.
Aí vai um dado assustador: os times brasileiros não fazem mais de um gol na decisão desde 13 de dezembro de 1993, quando o São Paulo liderado por Telê Santana derrotou o todo-poderoso Milan de Fabio Capello por 3 x 2 na Copa Toyota, como era chamada uma das versões pioneiras do torneio disputado initerruptamente há 19 temporadas sob a chancela da Fifa.
De lá para cá, é um gol só e olhe lá! Em alguns nem isso, como no vice tricolor. Na era do Mundial da Fifa, ou seja, a contar de 2000 e depois de 2005 a 2023, os times europeus sofreram mais de um gol na final três vezes. Em 2007, o Milan bateu o Boca Juniors da Argentina, por 4 x 2. Em 2016, o Real Madrid também fez 4 x 2 no Kashima Antlers, do Japão. No ano passado, o Al-Hilal, liderado pelo atual técnico do Vasco, Ramón Díaz, vazou a trupe merengue três vezes na derrota por 5 x 3 para o clube espanhol, em Rabat, no Marrocos.
O sambinha de um golzinho só viciou os times brasileiros a jogarem por uma bola contra europeus. Paulo Autuori, Abel Braga e Tite levaram São Paulo (2005), Internacional (2006) e Corinthians (2012) exatamente assim contra Liverpool, Barcelona e Chelsea, respectivamente. A ofensividade do Flamengo de Zico nos 3 x 0 contra o Liverpool, em 1981; ou do Santos de Pelé contra Benfica (1962) e Milan (1963), mudou de lado desde que a banda de lá derrubou fronteiras, globalizou elencos e passou a montar seleções nacionais. O inglês Manchester City usou 10 jogadores estrangeiros de altíssimo padrão contra o Fluminense.
De 1960 a 1995, a América do Sul ostentava 21 títulos mundiais contra 14 da Europa. Depois da Lei Bosman, são 25 glórias de times europeus e seis dos sul-americanos. Desde então, os times de cá sofrem horrores em duelos contra adversários de lá.
Na final de 1995, Ajax e Grêmio empataram por 0 x 0. Os holandeses triunfaram nos pênaltis. Em 1997, o Borussia Dortmund não foi vazado pelo Cruzeiro. O Vasco fez gol no Real Madrid, em 1998, mas tomou dois. O Palmeiras perdeu por 1 x 0 para o Manchester United, em 1999. Grêmio (2017) e Flamengo (2019) não balançaram as redes do Real Madrid e do Liverpool. Santos e Fluminense amargaram 4 x 0 contra o Barcelona (2011) e o Manchester City (2023) de Pep Guardiola. Clubes brasileiros não marcam mais de um gol na final contra europeus. Por sinal, o último foi de pênalti. Aquele de Raphael Veiga na derrota alviverde para o Chelsea na edição de 2021. Vou repetir: em cobrança de pênalti! O último construído é o de Guerrero no título do Corinthians contra o Chelsea, em 2012.
O Fluminense tentou. Foi fiel ao ofensivo dinizismo, porém não bastou para fazer gol de honra. A Seleção também é assim. Sofreu para fazer um na Croácia. A crise é gravíssima.