Provavelmente influenciadas pelos filmes apocalípticos de Hollywood, que precisam condensar a ação e uma história com início, meio e fim em cerca de duas horas, muitas pessoas alimentam a visão de um evento catastrófico que marcará definitivamente a mudança climática. A mente humana tem uma inclinação natural para responder a ameaças imediatas e visíveis, enquanto eventos mais lentos e graduais muitas vezes são negligenciados. Por isso, a imagem de eventos climáticos extremos em escala planetária que levem a um desastre global, como o derretimento súbito de calotas polares ou ondas de calor por todo o mundo, domina a narrativa de quem ainda não entendeu — ou não quer entender — que as mudanças estão ocorrendo silenciosamente, localizadas e sorrateiras, sem explosão dramática, se infiltrando em nossas vidas diárias e exigindo nossa atenção, respeito e ação imediata.
Por outro lado, milhares de pessoas que temem as chuvas cada vez mais violentas, o calor cada vez mais inclemente e a incerteza cada vez mais palpável, provavelmente, estão sofrendo de uma crise permanente de preocupação, que vem sendo chamada de ansiedade climática, ou ecoansiedade, palavra incorporada pelo Dicionário de Oxford e reconhecida pela Associação Americana de Psicologia como o medo agudo de uma catástrofe ambiental. Essa apreensão não é infundada. As recentes ondas de calor no Sudeste e no Centro-Oeste, as enchentes e tornados no Sul e as secas no Nordeste e na Amazônia são sintomas inequívocos de uma mudança climática em curso.
Os mais atingidos pela ansiedade climática são os jovens. Segundo um estudo da revista Lancet, 59% dos jovens entre 16 e 25 anos em vários países, incluindo o Brasil, estão extremamente preocupados com as mudanças. Não é por acaso. Além de uma sensação de impotência diante dos problemas ambientais, crianças e adolescentes também sentem que a crise climática não está sendo tratada com a urgência que merece. Essa ansiedade não é apenas um conceito abstrato: ela se manifesta em sintomas reais, como insônia e pânico. As pessoas que possuem uma conexão mais profunda com a natureza ou vivem em áreas verdes são particularmente suscetíveis.
Pessoas mais vulneráveis em termos econômicos também podem sofrer de ansiedade climática. Afinal, além de não poderem pagar para mitigar os efeitos imediatos, como o calor, os pobres são os mais propensos a um deslocamento forçado de suas casas, territórios e modos de vida, provocados por problemas como a elevação do nível do mar ou deslizamentos de terra após chuvas torrenciais.
Assim, a crise climática mostra que tem outras faces além do impacto severo e profundo no meio ambiente. É um problema que também toma conta das sessões de terapia e se revela uma questão de saúde mental. Para lidar com isso, é essencial reconhecer as mudanças no ecossistema global e a própria ansiedade climática como um problema de saúde pública, que demanda atenção especializada.
O desafio de acolher essas pessoas está posto para as equipes especializadas e mostra que o alerta para o cancelamento do futuro não é mera preocupação de ecologistas, biólogos e meteorologistas, mas uma realidade que impacta toda a sociedade e exige respostas multidisciplinares e urgentes.
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