Nosso tempo ressignificou muitos conceitos, mas um deles permanece, não somente inabalável, como plenamente adaptável e com imenso potencial de crescimento: o design. O velho conflito do consumo — produção em larga escala versus demandas personalizadas — parece ter encontrado alívio na depuração dos nossos desejos pelos algoritmos das redes sociais e pelas inteligências artificiais. Entretanto, o fator humano, um fazer capaz de entregar soluções associadas com as melhores experiências, é cada vez mais exigido, colocando os profissionais do design em lugar de destaque nessa nova dinâmica.
Uma contradição, uma vez que a concepção criativa da atividade, por si só, impede a acomodação fabril, gerando novos olhares, inquietações e, por que não, um movimento. Atuando há mais de 10 anos no ramo da economia criativa, tenho acompanhado essa efervescência em Brasília. Cidade reconhecida pela Unesco como cidade criativa do design, e por mérito dos habilidosos designers locais, tenho acompanhado o resultado inesperado de uma equação que soma uma produção ímpar aos talentos brasilienses ascendentes, e ao mesmo tempo uma certa falta de protagonismo no segmento.
A agitação que percebo é o ponto de virada que os profissionais articulados vislumbram, com uma janela de investimentos que se avizinha por parte dos governos federal e local e que, finalmente, pode chegar a um resultado justo frente ao potencial que temos. Na moda, decoração, design gráfico, produção moveleira e de produtos, temos nomes com produção robusta o suficiente para trazer um impacto real para o desenvolvimento econômico da capital federal, por meio de um estruturado polo de design nacional.
Nada mais coerente, considerando que Brasília reúne um pouco de todo país, pois os construtores da capital federal vieram e trouxeram em suas malas e mentes tantas referências e histórias que permitiram a expressão da legítima criatividade brasileira na construção de uma "capital sonho", mas que precisa despertar para as novas oportunidades. É preciso não só agarrar, como oportunizar o momento que o trabalho dos nossos ganhe projeção.
Em andanças pelas lindas e diversas cidades brasileiras e do mundo afora, é comum nos depararmos com um fascínio das pessoas que — até os dias atuais — enxergam Brasília como um verdadeiro santuário da modernidade. Sim, modernidade. Nossa capital federal tem 63 anos e continua sendo referência mundial em inovação, design e urbanismo. Por isso, nada mais oportuno do que fortalecer o debate sobre uma ação coordenada para articular os designers e estruturar um plano para a consolidação de um polo do setor.
Recentemente, justamente durante o pré-lançamento da Brasília Design Week 2024 (BDW), a declaração uníssona entre empresários e autoridades presentes foi a importância do fomento do design, reconhecendo o potencial econômico para a cidade. Com a expectativa da instalação do conselho de economia criativa, pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa, o design pode ser um dos propulsores desse momento. Até junho do ano que vem, a BDW vai realizar uma série de intervenções culturais para dar visibilidade ao tema design e criar um movimento de apropriação e reconhecimento desse potencial brasiliense.
A Semana de Design de Brasília 2024 capta esse espírito de oportunidade e busca não apenas celebrar o design, mas também catalisar mudanças duradouras em relação à percepção e aplicação do design no Brasil. Ao estender a influência do evento ao longo do ano, a intenção é criar um legado duradouro que inspire e promova uma abordagem mais consciente em relação ao design em todas as esferas da vida cotidiana.
A ênfase estará nas criações originárias de Brasília, destacando a rica produção cultural que concentra, pelo próprio processo de formação das cidades, um pouco de todas as regiões do país. Além disso, a semana também será palco para discussões e reflexões sobre o papel do design na sociedade contemporânea. A intenção é criar um diálogo constante e significativo em torno do design, estendendo-se para além das fronteiras físicas do evento. Essa pode ser a força motriz que o segmento tanto aguarda para despontar como potência criativa reconhecida nacionalmente.
*CAETANA FRANARIN, Empreendedora
Saiba Mais
-
Opinião Visão do Correio: Condições para o crescimento
-
Opinião Artigo: Correio e Brasília, sempre
-
Opinião Fascina pela sua disciplina
-
Opinião Visão do Correio: Desoneração tranquiliza empresas e trabalhadores
-
Opinião Artigo: O compromisso da filantropia brasileira na defesa do clima
-
Opinião Artigo: Falta de drogas para obesidade é sintoma de grande desconforto