Os casos de câncer de mama no Brasil — além de serem desafiadores — estão, ultimamente, mudando de perfil. Entre os diferentes tipos da doença, continua concentrando o maior número de casos em mulheres, mas a notícia é ainda pior: as vítimas estão cada vez mais jovens com o passar dos anos.
É assim no mundo. Estudo científico, publicado no BMJ Oncology Journal, que analisou todos os cânceres em pacientes abaixo de 50 anos demonstra que, entre 1990 e 2019, houve um salto de 79,1%, o que corresponde a um crescimento de 1,82 milhão de casos para 3,26 milhões.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que, neste ano, sejam registrados 73 mil novos casos de câncer de mama. Nos Estados Unidos, apenas 5% das pacientes têm menos de 40 anos; no Brasil, são 15%. No Instituto do Câncer de São Paulo, os diagnósticos de jovens tendem a ser feitos mais frequentemente, e muitos deles em estágios considerados avançados. De 500 pacientes abaixo dos 50 anos atendidas pela instituição, 68% estavam com tumores agressivos (invasivos) e grandes.
Alguns especialistas atribuem a essa mudança no perfil das pacientes com câncer o fato de que as mulheres, no caso meninas, estão chegando à menarca cada vez mais cedo. Geralmente, a primeira menstruação varia entre 10 e 14 anos, mas esse parâmetro tem atingido até mesmo crianças de 8 e 9 anos.
Esse fenômeno deixa essas meninas mais suscetíveis a hormônios femininos, como o estrogênio, que, embora tenha um papel fundamental na vida reprodutiva da mulher, também pode ser prejudicial, aumentando os riscos de incidência de câncer.
Como meninas e jovens de 20, 30 anos não fazem exames mais aprofundados da mama — por exemplo, mamografia e ultrassom —, prescrição que deve ocorrer apenas depois dos 40 anos, quando a mulher percebe (se é que percebe) que algo vai errado, o estágio da doença está avançado.
Para que células doentes surjam em mulheres jovens são dois os principais fatores. O primeiro seria uma espécie de “combo” — estilo de vida pouco saudável, falta de atividade física, má alimentação e tabagismo. O segundo tem ligação com a predisposição ao câncer em decorrência de uma mutação genética desde o nascimento.
O trabalho das entidades médicas é incansável no sentido de divulgar informações sobre a importância dos principais exames de imagem para a detecção precoce da doença, mas o que se vê, especialmente na rede pública de saúde, são cidades populosas com um equipamento adequado para a realização dos exames, mas, muitas vezes, ele está quebrado. Resultado: filas que chegam a demorar anos para que a mulher consiga fazer seu checape gratuitamente.
Um tempo de espera que pode mudar o diagnóstico de pacientes diante de uma doença que, quando mais cedo detectada, maior a chance de sucesso no tratamento. A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), inclusive, preconiza que a mulher, a partir dos 40 anos, faça a mamografia pelo menos uma vez por ano, assim como as consultas de rotina — que incluem o exame papanicolau, para identificar alterações nas células do colo do útero.
No caso das mulheres jovens ou com idade inferior a 40 anos, o que resta é o autocuidado, ou seja, o autoexame (embora ainda seja bastante criticado por parte dos médicos), a observação de algum sinal destoante e a percepção do histórico da saúde familiar. Nesses casos, a atenção é primordial. Para os órgãos públicos e as redes de educação, a tarefa de realizar campanhas de conscientização pode ajudar a evitar desfechos ruins.