Educação

Programas de aprendizagem transformam estratégias de retorno ao EJA

A interseção entre a EJA, a aprendizagem profissional, o combate ao analfabetismo e a inclusão social se consolida como um campo fértil de oportunidades para iniciativas inovadoras

Em um país marcado por desafios sociais, programas que visam a inserção e o desenvolvimento de jovens no mercado de trabalho desempenham um papel crucial na construção de um futuro mais promissor. No cenário educacional brasileiro, a interseção entre a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a aprendizagem profissional, o combate ao analfabetismo e a inclusão social se consolida como um campo fértil de oportunidades para iniciativas inovadoras. Em recente live realizada pelo Ministério da Educação (MEC), pude observar como o Programa de Aprendizagem está inspirando a transformação da educação com perspectivas mais individualizadas, inclusivas e eficazes para todos.

Em um país onde apenas 62% dos jovens concluem o ensino médio — de acordo com informações do Inep/MEC —, dados da Demà Jovem by Renapsi revelam que 78,3% dos jovens que estão matriculados nos programas de aprendizagem concluíram o mesmo período escolar, média 16 pontos percentuais acima. Mensurar o impacto de um programa social é uma tarefa desafiadora, dada a subjetividade dos resultados gerados por cada um deles. No entanto, a Renapsi não apenas abraçou o desafio como realizou um estudo investigativo de impacto social realizado, que proporcionou uma análise de impacto gerado ao longo dos últimos 30 anos.

O encontro virtual também me permitiu fazer uma análise mais aprofundada de casos práticos que experimentam a cooperação entre o setor público e organizações sociais como um meio para fazer a diferença. Trago como exemplo a sinergia de propósito que inspirou a Secretaria Municipal de Educação de Feira de Santana, na Bahia, a buscar reduzir as taxas de evasão no programa de jovens e adultos; e a Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho do Paraná, que busca impactar positivamente a jornada de jovens que vivem em restrição de liberdade. Além de promover empregabilidade e permanência na escola, os programas desenvolvidos por esses municípios combatem o desemprego juvenil e diminuíram os índices de reincidência.

São ganhos sociais que podem ser atribuídos a diversos fatores e, aqui, cabe valorizar a EJA, que ainda se apresenta como um desafio, mas também é uma oportunidade singular de engajar essa parcela da população na busca pelo conhecimento, especialmente quando integrada à aprendizagem profissional. Atualmente, o Programa Nacional de Educação, o PNE, estabelece diretrizes fundamentais, mas enfrenta contextos adversos, como a Meta 10 - EJA Integrada, que pretende integrar 25% das matrículas à educação profissional, um percentual distante da realidade.

O estudo realizado pela Demà Jovem by Renapsi revela que 61% dos jovens egressos de programas de aprendizagem estavam formalmente empregados. Essa abordagem não apenas enriquece o desenvolvimento individual, mas também contribui para o crescimento econômico em níveis regionais e nacionais. E por falar em renda, a análise revela um aumento médio de 2,4 vezes na renda presumida dos jovens recém-formados em 20 anos, evidenciando o impacto duradouro dos programas. Surpreendentemente, cerca de 3% dos formados ascendem à classe B, alcançando rendas mensais entre R$ 4.990 e R$ 100.000 após 10 anos de graduação. Outro dado impressionante é a participação empreendedora, com 24,5% dos jovens graduados há 12 anos fundando empresas, superando a média sugerida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A interconexão entre EJA, aprendizagem profissional, analfabetismo e inclusão social destaca a necessidade de uma abordagem mais holística, onde políticas educacionais, incluindo o PNE, devem ser sensíveis às necessidades específicas de grupos vulneráveis, garantindo não apenas a inclusão, mas também a sustentabilidade, perenidade, qualidade e relevância dos programas educacionais oferecidos.

Precisamos evoluir para muito além de uma conversa. Ainda precisamos de um compromisso concreto com essa geração que manifesta o desejo de voltar a estudar e de estratégias concretas para uma educação, de fato, mais inclusiva e verdadeiramente transformadora. Esse estudo revela números que desenham um panorama abrangente do impacto positivo de programas sociais ligados à educação de jovens. Iniciativas de sucesso, como em Feira de Santana e Curitiba, surgem como um farol de esperança, guiando os jovens em direção a um futuro mais promissor e reafirmando a importância de programas sociais estruturados e eficazes para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Estamos comprometidos em construir um futuro em que a educação seja uma força transformadora, rompendo barreiras, eliminando desigualdades e criando oportunidades para todos.

* Rayane Monteiro é diretora educacional da Demà Jovem by Renapsi — Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração

 

 

Mais Lidas