VIOLÊNCIA

Análise: justiçamento em Copacabana é reflexo da falência do Rio de Janeiro

Entendo que muita gente considera compreensível a reação da população, mas é preciso deixar claro que o justiçamento nunca será a solução. Ele é ilegal e pode levar a erros, como a "punição" de inocentes, além de alimentar o ciclo de violência

A terceira lei de Newton é a mais famosa da física. É a que trata de ação e reação. De uma forma geral, diz o seguinte: para todas as forças de ação surgem forças de reação com intensidades iguais, mas sentidos opostos. O grande problema é que, quando se trata de emoções, nem sempre são proporcionais. É o que ocorreu esta semana no Rio de Janeiro, quando viralizaram imagens de arrastões promovidos por gangues de trombadinhas nas ruas de Copacabana.

Praticadas em grande parte por menores de idade, as cenas de violência e terror causaram indignação e revolta na população, que reagiu com uma onda de ódio e intolerância. Em grupos de WhatsApp e nas redes sociais, surgiram dezenas de mensagens e vídeos de pessoas defendendo o justiçamento, ou seja, a punição sumária dos trombadinhas. Jovens de classe média foram às ruas atrás dos infratores e gravaram imagens de espancamentos.

Entendo que muita gente considera compreensível a reação da população, mas é preciso deixar claro que o justiçamento nunca será a solução. Ele é ilegal e pode levar a erros, como a "punição" de inocentes, além de alimentar o ciclo de violência. O que é preciso é cobrar das autoridades as medidas necessárias de combate à criminalidade. Daqui a exatas duas semanas começa o verão, o Rio é um destino tradicional do turismo, e ações na segurança pública se mostram necessárias.

Apenas com ações efetivas será possível reduzir a violência e transmitir uma sensação de segurança à população, sem que isso resulte em mais mortes e sofrimento. Sabemos que o Rio está abandonado, e não é de hoje. Somente na última década, seis ex-governadores foram afastados do cargo ou presos. O caos que se vê nas ruas, com pessoas em cima de ônibus ou trens, penduradas em janelas de coletivos e roubando e agredindo outras em plena luz do dia, é reflexo da falência do Estado.

A falta de políticas públicas eficazes para combater a criminalidade, a desigualdade social e a falta de oportunidades para jovens e crianças das periferias são os principais fatores que contribuem para a situação atual da outrora Cidade Maravilhosa. É preciso que a população exija um Estado mais presente e comprometido com a segurança e a justiça social. Sem isso, será enxugar gelo.

Mais Lidas