Com muita emoção, testemunhamos a aprovação, pelo Congresso Nacional, do feriado nacional do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro. É um marco histórico na luta antirracista no Brasil. A data será chamada de Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A conquista representa um reconhecimento da importância da contribuição do povo negro e uma celebração da resistência e luta contra a escravidão no país. Atualmente, o dia já é considerado feriado em seis estados brasileiros e em aproximadamente mil e duzentas cidades. A data remete ao dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares — um dos maiores do período Brasil-Colônia — no atual estado de Alagoas.
A figura de Zumbi dos Palmares representa a força da ancestralidade negra, da sua resistência, coragem, organização e determinação, marcas de um povo que enfrentou a opressão e lutou pela liberdade e pelo direito de viver com dignidade no solo brasileiro. O feriado reconhece, valoriza e dá visibilidade à contribuição de mulheres e homens negros à democracia e ao desenvolvimento econômico e cultural do nosso país.
A caminhada dos negros por cidadania plena segue nos dias atuais, inspirada pelas gerações que se ergueram sobre a dor e a tirania, e se alimenta da força que pulsa em cada jovem negro de periferia, em cada universidade, em cada griô (pessoa que, numa comunidade religiosa ou folclórica, detém a memória do grupo e funciona como difusor de tradições), em cada mulher negra e homem negro nos quatro cantos do Brasil.
O feriado é um reconhecimento dessa história e trajetória de coragem e superação no processo de formação da nação brasileira, mas é também um passo expressivo para o enfrentamento do racismo em suas diferentes dimensões, em especial o racismo estrutural que ainda permeia o Estado brasileiro. Nesse cenário, as mulheres negras destacam-se como pilares fundamentais na construção desta história de resistência como iyás (mães em iorubá, uma das línguas africanas) chefes de família, representantes políticas, estudantes cotistas, cantoras, educadoras, alquimistas culinárias e de cura, trabalhadoras. São exemplo e força para conseguirmos uma nação mais justa e generosa.
Como mulheres negras, sabemos que, para avançarmos cada vez mais, rumo a uma sociedade realmente democrática e com igualdade racial, é preciso que a representação nos espaços de poder político e de decisão expresse a maioria da população e do eleitorado brasileiros, garantindo a ampliação da representatividade do povo negro.
Essa luta provoca necessariamente uma reflexão sobre a qualidade da democracia brasileira e os impactos do racismo, o que exige ações firmes para superar um histórico de intolerância, discriminação e violências. O novo governo brasileiro notabiliza-se pela retomada de direitos e de políticas públicas que valorizam a diversidade do nosso povo, enfrentam desigualdades históricas e geram oportunidades. Mas é preciso avançar.
O feriado do Dia da Consciência Negra representa o compromisso com a justiça social e a igualdade racial. Permite reflexão sobre nossa história coletiva como nação, bem como sobre a história do povo negro, suas contribuições e os inúmeros desafios enfrentados. Dia 20 de Novembro expressa um pouco da sociedade que queremos, com democracia, justiça e igualdade racial. É um momento para celebrar o povo negro e sua potência, dando visibilidade a 56% da população brasileira, que, pela primeira vez, terá um feriado para celebrar sua história e a memória de seus ancestrais.
No entanto, é fundamental reconhecer que a luta contra o racismo em todas as suas manifestações deve ser uma busca diária e abranger todos os âmbitos da sociedade. A sanção presidencial do 20 de novembro, que agora faz parte do calendário nacional, representa um marco significativo na promoção e valorização da história e das tradições culturais do povo brasileiro.
A celebração da memória do povo negro brasileiro na quinta-feira anterior ao Natal foi um momento de grande importância e significado. À medida que avançamos na luta coletiva, é encorajador observar que o Censo 2022 revelou que a população negra continua sendo a maioria no país. Esse é um lembrete poderoso de que ainda há muito a ser feito para alcançar a igualdade e a justiça para todos. Vamos continuar a trabalhar incansavelmente para construir uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
*Deputadas federais petistas pelo Rio de Janeiro e pelo Rio Grande do Sul, respectivamente, e ativistas em defesa da igualdade racial
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