Aconteceu na Zona Norte de Recife. Uma mulher levou um soco no rosto ao ser confundida com um transexual, quando saía do banheiro. Li essa notícia com indignação e revolta, e não poderia ser diferente. Tomado pela fúria, o agressor a interpelou para saber se ela era homem ou mulher. Ao questionar o motivo da pergunta, ela foi surpreendida com o murro pouco acima do supercílio. Um ataque de transfobia e, ao mesmo tempo, de misoginia. A violência gratuita e absurda ocorreu na noite de sábado, antevéspera do Natal. Cinco dias antes, o papa Francisco tinha autorizado a bênção a casais do mesmo sexo. A decisão provocou reações destemperadas de gente que (pasmem!) começou a destilar ódio usando o nome de Deus e tentando se justificar com passagens bíblicas.
Não consigo entender o motivo pelo qual a felicidade e a orientação sexual alheia incomodam tanto alguns que se acham paladinos da moral — como se a homoafetividade fosse desvio de caráter ou algum tipo de aberração. Por que as pessoas simplesmente não se preocupam com a própria vida ao invés de desejarem ditar regras a terceiros? Usar a religião como justificativa ou subterfúgio para criticar quem não se encaixa na heteronormatividade é algo raso e desprovido de embasamento, para não dizer um comportamento fundamentalista. Os homofóbicos que se apegam à fé ou às Escrituras para tentar "semear uma verdade" pretendem impor sua crença e sua orientação sexual a terceiros. Nas redes sociais, muitos foram os que condenaram a posição do papa e até "evocaram" o "capeta" para tentar fundamentar seu preconceito.
Homofobia é crime. Nunca é demais lembrar. Relatório recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, em 2021, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans e queers foram os principais alvos de violência. O número de casos de agressão contra homossexuais subiu 14,6% entre 2020 e 2021, para 4.540; contra bissexuais, aumentou 50,3%, para 1.461, no mesmo período. Casos como o de Recife, muitas vezes, têm desfecho ainda mais trágico: o Brasil é um dos países que mais matam pessoas LGBTQIAP no mundo. Cabe às autoridades — e por que não à Igreja Católica? — o papel de conscentizar a população sobre a necessidade de se respeitar a diversidade.
O ato de amar não deveria ser condenado por ninguém. Amor é amor. Simples assim. Não interessa se entre pessoas cisgêneras ou trans, hetero ou homossexuais. É amor, e isso basta. Como pode um sentimento tão puro e lindo despertar ódio? Conservadores se escondem em sua hipocrisia e em sua insignificância para agredir, matar, disseminar preconceito e arrogância. Homofóbicos não passarão.
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