Internacional

Artigo: O conflito EUA-China e o porvir

As companhias sofrem com as restrições dos EUA às exportações e aos investimentos e com retaliações da China, que se somam aos tradicionais obstáculos chineses, como subsídios discriminatórios e apropriação de propriedade intelectual

Uma tela externa em Pequim mostra um programa de notícias sobre o presidente chinês Xi Jinping falando à margem da semana dos líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) na Califórnia       -  (crédito: JADE GAO / AFP)
Uma tela externa em Pequim mostra um programa de notícias sobre o presidente chinês Xi Jinping falando à margem da semana dos líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) na Califórnia - (crédito: JADE GAO / AFP)
postado em 24/12/2023 06:01

Yuka Hayashi, Liza Lin e Chun Han Wong, do Dow Jones Newswires, trazem boas informações: "A viagem da secretária do Comércio dos Estados Unidos (EUA), Gina Raimondo, à China, marcou a retomada do diálogo econômico e comercial entre Washington e Pequim, oferecendo alguma esperança para as empresas americanas que afirmam enfrentar condições de negócios hostis na China".

Mas apesar de Raimondo ter prometido alguns resultados para os próximos meses, representantes dessas empresas disseram que continuam "muito preocupados com o impacto das crescentes tensões políticas entre os dois países".

As companhias sofrem com as restrições dos EUA às exportações e aos investimentos e com retaliações da China, que se somam aos tradicionais obstáculos chineses, como subsídios discriminatórios e apropriação de propriedade intelectual. Os dois países são as duas maiores potências econômicas do planeta.

"Parece que a máquina voltou a funcionar", disse Michael Hart, presidente da Câmara Americana do Comércio na China. A visita de Raimondo — a primeira em cinco anos do secretário do Comércio dos EUA — "esfria o tom, tornando-o mais construtivo e um pouco menos combativo".

Numa demonstração do soft power dos EUA, Raimondo visitou a Disneylândia de Xangai, sorrindo e acenando para famílias e adolescentes. "É bom que eles (Washington e Pequim) estejam conversando", disse Joe Schott, presidente e gerente-geral do Shanghai Disney Resort, referindo-se aos canais de comunicação estabelecidos.

Por outro lado, o local escolhido para a sua coletiva, o hangar da Boeing no Aeroporto Internacional de Pudong de Xangai, foi um lembrete das dificuldades que as companhias dos EUA enfrentam. As empresas aéreas chinesas retomaram os voos com o Boeing 737 MAX em janeiro, mas a disputa comercial entre os dois países limitou as entregas de um punhado de outras aeronaves Boeing nos últimos anos e praticamente interrompeu os novos pedidos.

A Boeing tem reservados 85 jatos MAX fabricados para companhias chinesas, e a retomada das entregas liberaria um dinheiro bastante necessário. Apesar de algumas esperanças anteriores, Raimondo não mencionou a retomada das entregas.

Segundo o trio do Dow Jones Newswires, "depois que o governo Biden impôs controles às exportações, impedindo a tecnologia americana de fabricação de chips de entrar na indústria de chips chinesa, a China proibiu grandes empresas locais de comprar da fabricante de chips Micron Technology, citando 'riscos de segurança significativos'". Este mês, um acordo da Intel para comprar a companhia israelense Tower Semiconductor também fracassou, depois que as autoridades reguladoras chinesas não aprovaram o negócio.

A China respondeu por 13,3% das importações de bens dos EUA no primeiro semestre, o menor em 20 anos. Os investimentos externos diretos no país asiático caíram 48% em 2022, em relação ao ano anterior, e continuam caindo este ano.

Mesmo assim, Pequim insiste que a responsabilidade pela melhora das relações é de Washington. Na terça-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, disse a Raimondo que Pequim espera que "os EUA encontrem a China no meio do caminho" e "adotem medidas mais práticas e benéficas" para desenvolver as relações bilaterais".

Os EUA continuam, sem poder ser, o país hegemônico que já foram. No plano nuclear, topam com uma Rússia decidida, e, no plano econômico, não há como evitar a ascensão da China. É uma situação inevitável, e uma guerra não a resolve, pelo contrário.

O Ocidente e a Otan — não é de se esquecer que surgiu após a 2ª guerra mundial para combater um "bolchevismo" que nem mais existe — estão a ver a Índia pousar uma nave no polo sul da Lua, na parte escura.

O desenho do poder mundial muda do poderio atômico para o do aumento das trocas comerciais (aldeia global). Teremos e veremos intensas mudanças. Não será exagero dizer que a parusia está em construção.

É indubitável que cinco países em desenvolvimento com grandes territórios e vastos recursos naturais são candidatos a tornarem-se potências econômicas em avanços constantes: China, Rússia, Índia, Brasil e África do Sul (que geraram a sigla BRICS). Quanto ao Brasil, apesar de estar no chamado Sul Global, mantém boas relações com os EUA, a China e a Rússia, uma porção privilegiada.

A Ucrânia já aprendeu sua lição no que nos diz respeito. Zelensky não foi paparicado. O Ocidente tem gasto fortunas, sem êxito. Os sul-americanos e o sudeste asiático veem isso com indisfarçável desperdício, em detrimentos dos acordos regionais, o que favorece a China na sua marcha para a Europa Oriental (Bulgária, Romênia, Geórgia e Hungria estão construindo laços com os chineses).

Essa investida vem da chamada "nova rota da seda", evoluindo a influência, sem alarde, da China para o leste europeu e a África. Sua presença na América do sul também é grande e silenciosa. A telefonia nacional, por exemplo, depende muito da China para operar a contento. Agora, a BYD, fábrica de automóveis, se instalou na fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia (orla norte da região metropolitana).

Sacha Calmon - Advogado

 


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