Com o início do recesso do Congresso e do Judiciário, encerra-se mais um ano na política brasileira. Começará a temporada que o ex-deputado Thales Ramalho, secretário-geral do antigo MDB à época da ditadura militar, chamava de "flores do recesso". Daqui até a primeira semana de fevereiro, com o carnaval logo na sequência, surgirão assuntos que ganham força de uma hora para outra, mas desaparecem de cena quando deputados, senadores, ministros do Supremo e juízes voltarem das férias.
Por ora, estamos na vez de fazer um balanço de 2023, o primeiro ano do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O período foi marcado por avanços e retrocessos, com destaque para a aprovação da reforma tributária e da revisão das leis das cotas, com a ampliação das vagas reservadas para pessoas negras e indígenas nas universidades e no serviço público. O governo, no entanto, também sofreu derrotas importantes, como o marco temporal e viu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, perder a queda de braço em relação à desoneração da folha de pagamentos.
Por sua vez, chama a atenção a atuação dos adversários políticos do governo Lula no Congresso. Ela se mostrou praticamente inexistente tanto na Câmara quanto no Senado para quem prometia fazer a "maior oposição da história" após o resultado das eleições. Os vídeos da sessão de promulgação da reforma tributária, em que parlamentares chamaram o presidente da República de "ladrão" ou "cachaceiro", exemplificam bem a falta de respeito e o comportamento infantil de uma parcela da oposição.
Deputados e senadores têm todo o direito de não gostar do presidente e até mesmo de achar Lula um "ladrão". É a opinião deles. Mas, sob a presença do chefe de Estado no Congresso, o mínimo que se espera de um congressista é o respeito à liturgia do cargo. Depois do que ocorreu na quarta-feira, inclusive com tapas entre deputados, estou cada vez mais convicto de que a oposição não está ali para discutir o melhor para o país, mas, sim, para gravar vídeos e fazer pronunciamentos voltados para a base eleitoral.
O recesso parlamentar será um período de pausa para os políticos, mas também pode servir como um tempo de reflexão sobre o papel da oposição no Brasil. A oposição precisa se renovar e se profissionalizar, se quiser ser um contraponto eficaz ao governo Lula. O primeiro evento de 2024 será o ato em defesa da democracia, em 8 de janeiro, no Senado, para relembrar o primeiro ano dos atos golpistas. A oposição dará as caras? Ou ficará fazendo o jogo das redes sociais?
Feliz Natal!
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br