Nosso complexo de vira-lata só permite enxergar as peripécias táticas de Pep Guardiola. O gramado da “vizinha” Premier League é mais verde do que o nosso. As ideias mirabolantes do melhor técnico do mundo são aplaudidas de pé — inclusive por mim. O cara é gênio, mesmo. Ponto. Mas também temos um profissional fora da caixinha no Brasil. Muitas vezes incompreendido. Há dois anos, um desempregado Fernando Diniz voltava ao mercado para assumir o Vasco na Série B do Campeonato Brasileiro. A tolerância dos sábios de São Januário durou 12 jogos: demitido depois de 4 vitórias, 3 empates e 5 derrotas.
Sabe o Santos, rebaixado pela primeira vez para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro? Empregou Fernando Diniz no período de 10 de maio a 5 de setembro de 2021. Os entendidos da Vila Belmiro achavam que a varinha de condão transformaria abóbora em carruagem em quatro meses de trabalho. Dispensaram após 31 jogos: 11 vitórias, oito empates e 12 derrotas.
Admirar o dinizismo a distância é fácil. Tolerá-lo é para poucos. Enquanto Santos e Vasco cobravam imediatismo, o Fluminense teve paciência de Jó. O tricolor estreia nesta segunda-feira no Mundial de Clubes contra o Al-Ahly, do Egito, na Arábia Saudita, com 1 ano, 7 meses e 18 dias sob a batuta de Fernando Diniz. Deu tempo de conquistar o Campeonato Carioca e o maior título da história centenária do Fluminense: a Copa Libertadores da América.
Você pode gostar ou não das ideias do Fernando Diniz. Faz parte. Porém, é necessário reconhecer a ousadia dele para sair da mediocridade. O mineiro de Patos permite aos apaixonados pela excelência do jogo sonhar com um duelo no campo das ideias entre o dinizismo e o guardiolismo. Pode ser lindo ou trágico, mas merecemos de presente de Natal. Antes da final no próximo dia 22, em Jeddah, cada um deles precisa passar, respectivamente, por Al-Ahly e Urawa Red Diamonds nas semifinais.
Concluo expondo motivos para meu pai, o agora setentão Alberto Lima, aniversariante da semana, acreditar no Flu. Fernando Diniz conta com um baita goleiro. Os times brasileiros campeões do Mundial sob a chancela da Fifa sempre dependeram dos donos das traves. Rogério Ceni (2005), Clemer (2006) e Cássio (2012) foram decisivos.
O tricolor tem zagueiro. Nino é a referência do setor. Baita beque capaz, sim, de colocar rivais do Ah-Ahly e, por que não, do Manchester City no bolso em um jogo? Há um lateral fora de série. Marcelo representa risco no setor esquerdo da defesa, mas é uma armadilha nas movimentações como falso meia.
O Flu desfruta de um senhor volante: André. No ataque, ostenta o cara da bola do jogo. São Paulo, Inter e Corinthians foram campeões com triunfos por 1 x 0. Cano não costuma errar. Se o argentino falha, surge o talismã John Kennedy. Quando tudo parece perdido, o tempo de trabalho permite ao Diniz reinventar o time. Fé, tricolores!
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