O Brasil está reconquistando espaço nas discussões em torno de agendas internacionais. Nesses dias, o país teve a chance de mostrar seu potencial e compromisso com as demandas relacionadas às mudanças climáticas, debatidas na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28).
Diferentes setores da sociedade brasileira se movimentaram em Dubai (Emirados Árabes), cidade que recebeu os debates voltados a construir caminhos para frear ou minimizar os impactos das mudanças climáticas — entre eles, o aquecimento global. Um desses setores foi a filantropia brasileira que, desde o ano passado, tem assumido compromissos mais ousados no enfrentamento ao problema.
Engajar-se nessa tarefa não requer necessariamente assumir a pauta climática como a principal organizadora de atuação filantrópica, mas compreender como ela se conecta e afeta as causas, os territórios e os modelos de atuação priorizados pelas diversas organizações desse campo. A adesão de filantropos e investidores sociais brasileiros à agenda climática acompanha o movimento mundial do setor, com destaque para as especificidades do nosso país e do Sul Global.
Assegurar que o aumento da temperatura não ultrapasse os limites seguros para a humanidade e promover as adaptações necessárias para conviver nesse contexto é, ao mesmo tempo, urgente e complexo. Tais ações exigem coordenar estratégias para zerar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), implementar medidas consistentes e amplas de adaptação, e estabelecer mecanismos ágeis e justos para a reparação de perdas e danos. Implica em abordar natureza, pessoas e economia de forma integrada, reconhecendo que as desigualdades se intensificam com as alterações do clima.
A filantropia brasileira, que é estruturada e diversa, tem a capacidade de dialogar com todas essas especificidades, sustentada na autonomia de cada organização em desenhar e implementar as próprias estratégias. Não obstante, pode ampliar a capacidade do setor em oferecer contribuições relevantes e consistentes, utilizando e criando redes de cooperação para trabalhar de maneira colaborativa e articulada.
Com esse propósito, um movimento de vanguarda foi lançado em Dubai. Trata-se do Compromisso Brasileiro da Filantropia sobre Mudanças Climáticas, assinado na primeira semana deste mês de dezembro e que, até o momento, conta com 28 organizações filantrópicas signatárias.
Ainda que esse compromisso tenha sido criado em diálogo com movimento semelhante da filantropia internacional, essa versão dialoga diretamente com as especificidades do nosso território. Não se trata, portanto, de mimetizar o que ocorre com a filantropia do Norte Global; o que tem sido proposto é algo genuíno da realidade brasileira.
Com o documento, o setor acena positivamente para a construção e a disseminação de ações e estratégias que perpassam por oito temas — entre eles, educação e aprendizagem, visão sistêmica de iniciativas para um mundo com emissões líquidas zero, advocacy, transparência e, sobretudo, alocação de recursos, políticos, sociais e financeiros.
Esse compromisso reforça um relevante momento para a filantropia brasileira, que tem a oportunidade de influenciar ações práticas e consistentes a partir de uma nova perspectiva de desenvolvimento, cumprindo papel estratégico para o alcance das metas nacionais e internacionais. O setor pode, e deve, atuar como catalisador de recursos financeiros, apoiando o fortalecimento das capacidades de governos locais para formular, implementar e avaliar políticas e planos de ação.
Ao longo de sua história, a filantropia brasileira, com formas e intensidades distintas, promove a geração de bens públicos orientados à justiça social. Neste momento, reconhece ainda mais a centralidade das mudanças climáticas no exercício dessa missão.
*Cassio França Secretário-geral do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) e Inês Lafer, presidente do Conselho do GIFE
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