Salvo algum erro da meteorologia, o Brasil enfrenta, a partir de hoje, uma nova onda de calor, com temperaturas que podem superar os 40°C em boa parte do Centro-Oeste e do Sudeste. O fenômeno deve durar pelo menos quatro dias consecutivos. E olha que os efeitos do Super El Niño, aquecimento das águas do Oceano Pacífico que provocará a ampliação dos extremos climáticos até março de 2024, ainda estão embrionários.
A nova onda de calor praticamente coincide com o fim da COP28, a 28ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU). Nas últimas duas semanas, lideranças políticas e cientistas reconheceram a necessidade de adotar um novo rumo no enfrentamento da mudança climática global, basicamente com o início do fim do uso dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás). Os países participantes do acordo se comprometeram a acelerar a transição energética para matrizes renováveis.
É, sem dúvida alguma, um avanço importante. Ocorre que há muito a ser feito. O texto aprovado na COP28 não inclui qualquer menção sobre a "eliminação progressiva dos combustíveis fósseis". Além disso, a linguagem parece ter sido enfraquecida no que diz respeito à adaptação e ao financiamento, com o uso do termo "reiterando" em vez de "solicitando".
Técnicos do governo brasileiro que participaram da conferência do clima são praticamente unânimes em afirmar que, para que seja realmente a chance da virada de chave na relação com o meio ambiente, é preciso que os países desenvolvidos cumpram as promessas de financiamento para a adaptação às mudanças climáticas. É preciso que haja um compromisso real com a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis.
A próxima COP, a 29, ocorrerá no Azerbaijão. A expectativa é de que sejam dadas explicações sobre de onde virá o dinheiro para financiar as medidas necessárias. Em 2025, será no Brasil, em Belém, com a entrega dos novos compromissos climáticos. "O que vamos fazer para deixar o aumento da temperatura em 1,5ºC?" é a pergunta à qual todos esperam respostas.
A nova onda de calor no Brasil é mais um alerta de que precisamos agir agora. Nossas autoridades têm um longo dever de casa a ser feito, com a definição dos investimentos em energias renováveis, como solar e eólica; a criação de incentivos à eficiência energética; a reforma do setor elétrico; e a tributação progressiva dos combustíveis fósseis. Uma certeza eu tenho: basta querer fazer. Mas todos estarão interessados?
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