Duas meninas, de 2 e 7 anos, e um menino, 9, rotineiramente estuprados. A barbárie acontecia em Arniqueira (DF). O pai da caçula, e padrasto das outras duas vítimas, foi preso pelo crime. E a suspeita é de que ele não era o único a cometer a violência — outros familiares e amigos dos parentes das crianças também estariam abusando delas. O cenário que se apresenta, portanto, é que os vulneráveis estavam ao alcance de quem quisesse violar seus corpinhos e sua infância. Há mais um fato medonho: testemunhas disseram que os estupros eram frequentes. E eu pergunto: se sabiam, por que não agiram logo para cessar a crueldade?
Em Posse (GO), outro crime hediondo. O pai estuprou a própria filha, de 1 ano e 6 meses, e a mãe da criança lavou as roupas do casal e da menina para tentar encobrir o crime e proteger o companheiro. A perversidade só foi descoberta porque um vizinho ouviu o choro da bebê e ligou para a polícia.
No último fim de semana, Kemilly, 4, foi estuprada e assassinada pelo primo, 22, no Rio de Janeiro. A menina estava em casa apenas com os dois irmãos, de 7 e 8 anos, quando foi levada. A mãe os tinha deixado sozinhos para ir a uma festa e só chegou no início da manhã seguinte — ela está sendo investigada por abandono de incapaz.
O desgraçado disse à polícia que matou Kemilly após violentá-la, porque ela chorou. Começou cortando a garganta da menina, mas depois resolveu estrangulá-la. Um tio que foi reconhecer o corpo no IML disse que o rosto da criança estava desfigurado — segundo ele, de tanto que a menina apanhou do miserável.
São casos de abalar a alma. E cito apenas alguns dos mais recentes, já que a violência contra crianças e adolescentes é uma rotina neste país. Os ataques partem de quem tem a obrigação de protegê-los — pais, padrastos, mães, madrastas, irmãos, primos, tios, avós.
É desesperador como não conseguimos combater essa atrocidade. Entra governo, sai governo, e não há medidas realmente efetivas para enfrentá-la. Cabe ao Estado, pelo poder que possui, tomar a frente e fazer da proteção dessa camada tão vulnerável uma luta nacional, implementar políticas públicas, convocar esforço coletivo, fortalecer a tão falha rede de atendimento. Família e sociedade, obviamente, têm de entrar na batalha, e não virar o rosto para a brutalidade. Estar ciente de um crime e não denunciá-lo é ser conivente.
Quem souber ou suspeitar de abusos contra crianças e adolescentes deve acionar delegacias, conselhos tutelares ou recorrer a canais como o Disque 100 e o aplicativo Proteja Brasil. A inércia condena meninos e meninas ao profundo sofrimento e até à morte.
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