Não existem problemas isolados em um país com uma desigualdade tão gritante. Quanto mais desigual e quanto mais preconceituoso, maior o abismo que separa as diversas camadas e extratos da população — e toda ela deveria ter acesso aos mesmos direitos básicos e constitucionais.
Não podemos falar dos problemas de transporte público apenas do ponto de vista da mobilidade, por exemplo. É preciso mostrar que o direito de ir e vir é ainda mais comprometido para mulheres, que são frequentemente assediadas, e para a população LGBTQIAPN , como mostramos em uma série de reportagens agraciada na semana passada com o Prêmio CNT de Jornalismo.
Os jornalistas Talita de Souza, Pedro Grigori e Aline Brito receberam o prêmio pela série Viagem cancelada: o preconceito que limita o ir e vir da comunidade, que apresentou um levantamento inédito feito a partir de dados do Ministério dos Direitos Humanos sobre casos de violação dos direitos humanos com membros da comunidade LGBTQIAPN em transportes públicos, como ônibus e metrôs, e em veículos por aplicativo. Confira as reportagens:
- Viagem Cancelada — Capítulo I: Preconceito limita o acesso da população LGBTQIAP+ ao transporte público.
- Viagem Cancelada — Capítulo II: Violência nos transportes afasta comunidade trans do convívio social.
- Viagem Cancelada — Capítulo III: Com violência em táxis e aplicativos, comunidade LGBTQIAP+ tem locomoção restrita.
O trabalho teve apoio do repórter multimídia Benjamin Figueredo, responsável pelos vídeos e pelas imagens da primeira reportagem, e os textos foram editados por Mariana Niederauer, editora do site do Correio Braziliense. Um parêntesis: a jornalista Adriana Bernardes, coordenadora de reportagem do Correio, também foi homenageada por sua atuação ao longo da carreira como setorista de trânsito.
Quando falamos dos diversos fatores de opressão na sociedade, como racismo, sexismo, capacitismo, homofobia, transfobia e outros, é preciso estar consciente da interseccionalidade. Ou seja, a desigualdade se revela ainda pior para determinados grupos e comunidades, a depender de gênero, cor, credo etc. Porque as violências e formas de opressão não são independentes.
Ser uma mulher preta no Brasil, por exemplo, é fazer parte do maior grupo de vítimas de feminicídio, conforme os últimos dados do Atlas da Violência. Outro exemplo: a mortalidade por agressão é 41% mais elevada para negros do que para não negros.
Por isso, devemos reconhecer e combater aquilo que é estrutural: machismo, racismo e todas as formas de preconceitos. Desde a infância, com educação, com políticas afirmativas. Só assim teremos um país mais justo e menos desigual.
Hoje, nos 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, recomendo a leitura da entrevista do ministro Silvio Almeida aos jornalistas Rosane Garcia, Mariana Niederauer e Henrique Lessa ao Podcast do Correio.
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