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Lembranças

Artigo: Instantes para sempre

Na última quinta-feira, mais um momento eternizado. Estar junto a 60 mil pessoas cantando, em uma só voz, Hey Jude e Let It Be, empurradas por ninguém menos do que o beatle Paul McCartney, no Estádio Nacional Mané Garrincha

Crédito: Hildo Rocha Neto/Flickr. Rio Araguaia é um dos atrativos de quem visita Aruanã, Goiás. -  (crédito: Hildo Rocha Neto/Flickr)
Crédito: Hildo Rocha Neto/Flickr. Rio Araguaia é um dos atrativos de quem visita Aruanã, Goiás. - (crédito: Hildo Rocha Neto/Flickr)
postado em 06/12/2023 05:00

"Disso é feita a vida, de momentos..." O poema Instantes, do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), é quase um manual para não se perder os instantes mais preciosos da nossa jornada neste planeta. Contemplar mais entardeceres e amanheceres, se apaixonar pelo pôr do sol. Viajar mais. Ir a lugares onde nunca tenha ido. Pisar o chão, descalço. Nadar em rios. Em meus 48 anos de vida, tive alguns instantes que me marcaram profundamente. O nascimento de meu filho foi o mais especial deles. Sentir a presença do divino dentro da sala de parto e deixar o coração transbordar de um amor infinito. Nesse encontro de almas, eu me pus a chorar. 

Como Borges receitou, tive a oportunidade de tomar banho no Araguaia, várias vezes quando criança. Foram momentos tão especiais que meus sentimentos de ternura e de paz são como aquele rio desembocando na foz do meu coração. Quantas vezes também me pego deslumbrado com o céu amarelado durante o alvorecer ou tingido de vermelho ao crepúsculo... Tive a sorte de assistir ao nascer do sol em Inti Punku, um dos portais do caminho inca para Machu Picchu. No horizonte, a neblina desnudando uma senhora repleta de mistérios, Machu Picchu. Mais uma vez, as lágrimas vieram, acompanhando as ruínas que escapavam da bruma espessa. 

Outros momentos inesquecíveis vieram com um apego à religiosidade. Nas quatro vezes em que entrei no Santo Sepulcro, em Jerusalém, fui tomado por uma energia indescritível. Em todas elas, emocionei-me ao tocar a Pedra da Unção, onde o corpo de Jesus teria sido preparado para o enterro, ou ao entrar na edícula do túmulo. Também, em meio a um dos crepúsculos mais lindos que presenciei, agachar-me à margem do Mar da Galileia, em Tiberíades, molhar as mãos e fazer o sinal da cruz. No Marrocos, outros instantes indescritíveis: apertar a mão do papa Francisco depois de missa celebrada em uma igreja de Rabat e presenciar um muçulmano, com os braços estendidos em direção ao pontífice e um masbaha (terço islâmico) pendendo do braço, em sinal de profundo respeito.

Na última quinta-feira, mais um momento eternizado. Estar junto a 60 mil pessoas cantando, em uma só voz, Hey Jude e Let It Be, empurradas por ninguém menos do que o beatle Paul McCartney, no Estádio Nacional Mané Garrincha. A força da música dos Beatles unindo gerações, misturando passado e presente, trazendo lágrimas de alegria e de saudade.  Quase como orações em forma de melodia. Viver é absorver cada instante com detalhamento e calma, degustá-lo como sorvete de chocolate (ou qualquer outro), vivê-lo com o olhar inocente de criança. É deixar um pouco de lado o termômetro, a bolsa de água quente, o guarda-chuva e o paraquedas. Aproveitar o agora. E apostar tudo no amor.

 


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