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Visão do Correio

Visão do Correio: Contagem regressiva para uma tragédia ambiental

Desde 2019, vários bairros se tornaram fantasma. Mais de 14 mil imóveis estão ameaçados e 54 mil pessoas foram afetadas. A Brasken tem 35 minas de sal-gema espalhadas em Maceió, com profunidade média de 886 metros

Vista geral da região que engloba os bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, às margens da lagoa Mundaú: casas abandonadas -  (crédito: Pei Fon/Estadão Conteúdo)
Vista geral da região que engloba os bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e Bebedouro, às margens da lagoa Mundaú: casas abandonadas - (crédito: Pei Fon/Estadão Conteúdo)
postado em 02/12/2023 06:00

De acordo com a Defesa Civil de Maceió, o desmoronamento de uma das minas de sal-gema da Braskem na capital alagoana pode tragar, a qualquer momento, parte considerável do bairro de Mutange, nas proximidades da Lagoa do Mundaú. O deslocamento vertical acumulado da Mina 18 é de 1,42m e a velocidade vertical, de 2,6cm por hora. A população remanescente do bairro foi avisada na quarta-feira, por SMS, que deveria abandonar imediatamente suas casas devido ao risco de desabamento, largando tudo para trás.

Desde junho de 2019, Pinheiro, Mutange e Bebedouro se tornaram bairros fantasmas. Parte do Bom Parto e do Farol também. Mais de 14 mil imóveis estão ameaçados e 54 mil pessoas foram afetadas. A Braskem tem 35 minas de sal-gema espalhadas em Maceió, com profundidade média de 886 metros, mas algumas chegam a mais de 1,6 mil metros de profundidade.

Desde novembro, cinco tremores de terras provocaram um alerta de risco iminente de colapso da Mina 18, no Mutange; outras duas podem desmoronar. A extração de sal-gema, utilizada na fabricação de soda cáustica, plástico para embalagens e PVC, começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que se tornaria a Braskem. O método de extração é muito predatório: injetar água para dissolver e bombear o sal.

As rachaduras surgiram em fevereiro de 2018, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, houve o primeiro tremor, com novas rachaduras, abertura de crateras e danos aos imóveis do bairro Pinheiro. Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmou que a instabilidade no solo foi causada pela mineração.

Desde então, a Braskem vem tentando tamponar as minas que ameaçam desabar com areia, porque isso era feito apenas com água e deu errado. Entretanto, o fracasso dessa alternativa foi varrido para debaixo do tapete. As soluções pactuadas com a Prefeitura de Maceió e órgãos ambientais foram insatisfatórias. Não existe transparência em relação às medidas tomadas e a população é mantida à margem dessas tratativas.

Repete-se a mesma situação de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, onde as represas de resíduos de ferro da Vale se romperam, provocando destruição e morte, por irresponsabilidade da empresa e falta de fiscalização ambiental adequada. Até agora, ninguém morreu nas áreas afetadas de Maceió, mas os prejuízos econômicos são enormes. Agora, tragédia ambiental iminente pode ser de proporções inéditas no mundo: as águas da lagoa do Mundaú podem ser sugadas pelas minas.

A Braskem afirma que "a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços, está isolada desde a tarde da terça-feira, em cumprimento às ações definidas nos protocolos de segurança". A empresa diz que 99,3% dos imóveis da área de risco foram realocados, desde novembro de 2019.

Ainda segundo a Braskem, os dados de monitoramento demonstram que a acomodação do solo segue concentrada na área desta mina, mas pode ser abrupta. Com escritórios e plantas nas Américas, na Europa e na Ásia, a Braskem atende clientes em mais de 70 países. É a maior produtora de resinas termoplásticas das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros.

 


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