Hidrogênio verde, descarbonização, transição energética são conceitos relativos a questões ambientais que mobilizam o debate público nas esferas de decisão coletiva no Brasil. São ideias complexas, de difícil compreensão, que parecem distantes da realidade diária de todos nós, mas extremamente importantes para se regulamentar a exploração sustentável de recursos naturais.
Não obstante, questões ambientais são também temas do nosso dia a dia. Dizem respeito às condições do meio ambiente nos locais em que moramos e dos comportamentos de conservação e preservação que adotamos. Se temos que pensar globalmente, precisamos agir localmente. Assim, a discussão sobre essas questões é de interesse da sociedade local e do poder público local. Não são só temas complexos e distantes, que o Congresso trata, mas com implicações para a saúde pública local, para o bem-estar da população, para o consumo consciente.
Com isso em mente, o Observatório de Políticas Públicas do DF (ObservaDF) da Universidade de Brasília, com o apoio da senadora Leila Barros, presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal, realizou pesquisa em agosto de 2023 que mapeia os padrões comportamentais e as avaliações da população sobre a situação do meio ambiente e das políticas ambientais no DF. Foi aplicado questionário estruturado a uma amostra de 1.000 habitantes, representativa da população urbana.
Os dados mostram uma população muito crítica da situação ambiental da região e dos comportamentos da sociedade sobre a questão. Também é uma sociedade, em geral, pessimista sobre o futuro. Para dois grupos, esses pontos são ainda mais agudos: os moradores de cidades de renda baixa e os jovens — entre 16 e 24 anos. Para os mais pobres, os problemas ecológicos são mais graves, desvendando mais uma camada da perversa desigualdade que assola o DF e que tem resistido a governos.
Perguntamos, inicialmente, se as pessoas adotam práticas de preservação e conservação do meio ambiente. A maioria entende que os outros não fecham a torneira ao escovar os dentes, não reduzem o tempo de banho, não economizam água ou energia, não consomem mais produtos que não gerem resíduos sólidos ou orgânicos, não separam o lixo reciclável, jogam lixo no chão e não usam sacolas biodegradáveis. Ou seja, prevalece uma visão negativa sobre comportamentos sustentáveis da sociedade.
Pensando na qualidade do meio ambiente perto da residência, os principais problemas são: ruas muito empoeiradas, presença de lixo nas ruas, animais abandonados e ruídos altos. Para pessoas mais jovens e para os grupos de renda baixa, esses problemas são ainda mais acentuados, incluindo, na lista, a presença de esgoto ou água suja na rua. Também as condições ambientais são muito piores na percepção dessa parcela da população: há uma percepção de muito mais ruídos na rua e de que estas são menos arborizadas onde moram. Ou seja, nas regiões mais pobres e na perspectiva dos jovens, abundam situações negativas ambientais no local de moradia e minguam condições positivas, como o conforto térmico gerado pela presença de sombras das árvores e o sonoro, com menos barulho nas áreas públicas.
Por último, perguntamos sobre as expectativas sobre os problemas ambientais. Prevalece um pessimismo generalizado no DF: 61% dizem que vão aumentar os problemas e 16% que ficarão iguais. Para os moradores de cidades de renda baixa, isso é ainda pior: 69% pensam que vai piorar e 16% que ficará igual. Jovens também são mais pessimistas: 65% pensam que piorará e 20% que ficará igual. Ou seja, esses segmentos da sociedade que são mais críticos dos comportamentos e situações ambientais não têm visto melhorias no presente e projetam essa frustração para o futuro, imaginando que nada vai melhorar. Mostra também uma descrença com a habilidade dos governos em reverterem o quadro.
* Lucio Rennó é professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do ObservaDF