Está virando paranoia. O medo crescente, a insegurança e a preocupação que as pessoas têm para responder a um e-mail desconhecido e atender a uma chamada do celular cujo nome não conste da agenda são reais. Dar um sim ou um não a um questionamento pelo Whatsapp está levando comunidades e o cidadão comum a um estresse que resvala na quase insanidade. Para o leigo em informática, vítima em potencial mais visada, o tema é assustador. Mas até para os profissionais em tecnologia da informação (TI), a questão invade a chamada área de risco e, em alguns casos, o medo de estar sendo vítima de golpistas é constante.
Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo são as cidades preferidas, e cuidadosamente escolhidas, de grupos de marginais tecnologicamente preparados para aplicar toda a ordem de golpes na busca ilegal do dinheiro fácil. Organizados, esses grupos investem, após pesquisas, em classes distintas e de poder aquisitivo robusto. Pilotos de avião, apresentadores de tevê, empresários de renome e profissionais liberais abastecem o público alvo dos golpistas com maior frequência. E o que é pior: muitos desses grupos agem com o respaldo silencioso sabe-se lá de quem, uma vez que denúncias se amontoam nos órgãos de segurança e as providências, muitas vezes pífias, não levam a lugar nenhum.
Um ex-agente policial, que prefere não se identificar, concorda e justifica a escolha de Brasília, São Paulo e Rio como alvos preferidos desses marginais. Para ele, uma questão simples. Brasília e São Paulo, segundo dados do IBGE, são as cidades cujos habitantes têm o maior poder aquisitivo do país. E o Rio, segundo ele, abriga o maior número de pessoas que não levam a sério as denúncias que recebem. O leitor que avalie por que o carioca pensa assim. Com certa ironia, ou provocação, a fonte avalia também que Brasília tem, no seu viés político, um ingrediente facilitador aos que buscam prosperar nessa atividade ilegal.
Difícil achar culpados nessa rede intrigante de técnicos a serviço do mal espalhados Brasil afora. Mas o fato é que, com medo, inseguro e impotente diante de variadas formas de ataque, o cidadão está diante de uma situação que o constrange mais a cada dia. Não raro, nos deparamos com clientes que desconfiam da própria instituição bancária que o atende. Cidadão que teme fazer denúncias a certos órgão de segurança, uma vez que o vírus da incerteza contamina a todos nós.
Impressiona ouvir relatos de golpes aplicados a pessoas de diferentes níveis sociais, poder aquisitivo ou sabedoria cultural. Por mais que as instituições bancárias, os órgãos de segurança e as entidades do setor façam alertas e passem informações de como evitar o delito, dia após dia surge um golpe novo, uma malandragem diferente, e lá vamos nós engrossar a fila no corredor dos prejudicados. Os mais experientes, cheios de boas intenções, não se cansam de passar instruções, alertas e caminhos seguros a seguir para que se evite cair nessas redes maléficas que levam ao prejuízo.
Triste constatar que o inimigo silencioso avança a passos largos, e, gostem os combatentes ou não, a verdade é que a tecnologia do mal está alguns metros adiante. O leitor mais atento, por certo, já acompanhou pela mídia inúmeras informações sobre o vazamento de dados pessoais do cidadão, obtidos por operações ilegais, e, ao mesmo tempo, promessas e mais promessas que o governo faz, se comprometendo a punir os culpados e evitar que o mal se alastre e contamine privacidades. Se tais providências foram adotadas, nenhum resultado oficial foi divulgado.
É fácil deduzir que o CPF e outros dados pessoais de centenas de pessoas caíram em mãos desapropriadas. Isso é fato, negue quem quiser negar. O que se espera das autoridades das áreas de segurança, das pessoas que administram bens e recursos financeiros das pessoas e dos governantes de um modo geral é que se intensifique a fiscalização e aumente o rigor nas medidas de punição a esses indivíduos nocivos à sociedade.
* José Natal é jornalista
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