SEGURANÇA

Artigo: GLO ajuda, mas não faz milagre

Operações policiais são importantes para resolver problemas pontuais, mas jamais vão desmantelar as organizações, que têm braços dentro da administração pública e parecem só crescer

A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) decretada pelo governo federal para estrangular a logística do crime organizado é uma medida inteligente, que pode surtir efeitos no curto prazo. Não fará, porém, milagres. O presidente Lula, colocado em uma sinuca de bico pela crise na segurança pública do Rio, optou por não colocar militares para subirem os morros com fuzis na mão, como fizeram governos passados. O histórico desastroso das GLOs no Rio de Janeiro mostra que a medida, além de não resolver, pode causar sérios danos políticos a Lula. Uma morte por bala perdida, de militares ou civis, seria prato cheio para a oposição contra um governo que sempre criticou a política de guerra ao crime, com confrontos armados. Fora que geraria críticas de grande parte da esquerda, base estrutural do governo.

Isso sem contar o mal-estar com as Forças Armadas pela relação com o governo Bolsonaro e pelos militares de alta patente envolvidos em uma conspiração golpista. Apesar de a relação não estar em crise como no começo do ano, ainda há desconfiança. Lula, porém, não poderia deixar de agir quando milícias causaram o caos no Rio de Janeiro, queimando 35 ônibus e paralisando a Zona Oeste da cidade. Especialmente em um momento no qual a segurança pública estava sendo alvo principal da oposição para tentar desgastar o governo, com o ministro Flávio Dino no centro dos ataques.

Lula, portanto, agiu de forma inteligente tanto na política quanto no enfrentamento ao problema. Por mais que grande parte dos administradores públicos defendam a política de enfrentamento — afinal, ‘bandido bom é bandido morto’ para muitos — estamos cansados de ver operações que causam mortes de civis, com grandes apreensões e prisões, mas que parecem não abalar a estrutura do crime organizado. E não abalam. Operações policiais são importantes para resolver problemas pontuais, mas jamais vão desmantelar as organizações, que têm braços dentro da administração pública e parecem só crescer.

Combater a logística e o financiamento das organizações é o caminho certo. Não se pode esperar, contudo, que a GLO resolva o problema até maio do ano que vem. Desmantelar as facções é um trabalho complexo, de décadas, que depende de mudanças estruturais profundas no sistema brasileiro. A começar por remover agentes públicos que tenham conexões com o crime, passando ainda por fortalecimentos na fiscalização de fronteiras, nas ações de inteligência e no monitoramento. Se o governo estiver realmente comprometido com o enfrentamento ao crime, anunciará medidas mais profundas e estruturais nos próximos anos, e não se contentará com a GLO para apagar o fogo imediato. A indicação, no momento, é positiva.

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