Faltam 58 dias para acabar o ano. Longe de ser um exercício de futurologia, mas considero praticamente impossível, ainda em 2023, sentir um aperto tão grande no coração ao ler uma notícia quanto vivenciei ontem de manhã. Estou me referindo ao comunicado divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que descreve os ataques ao campo de refugiados de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza, como "cenas de carnificina".
De acordo com o Unicef, os bombardeios contínuos ao longo de 25 dias teriam resultado em mais de 3,5 mil crianças mortas e outras 6,8 mil feridas. "Isso significaria mais de 400 crianças mortas ou feridas por dia, durante 25 dias consecutivos. Não pode se tornar o novo normal", diz o comunicado.
Em primeiro lugar, avalio que a matança de crianças é um crime contra a humanidade, independentemente de quem seja o responsável. Viola o direito à vida, à saúde, à educação e à proteção. No caso do conflito entre Israel e o Hamas, iniciado há exatamente um mês, elas encontram-se ainda mais vulneráveis. As que vivem em Gaza estão confinadas em um território sitiado, com acesso difícil a alimentos, água e cuidados médicos adequados. As israelenses são também frequentemente usadas como escudos humanos pelos homens do Hamas.
Outro ponto é que a morte de crianças trata-se de um recado claro de que o conflito Hamas-Israel é uma tragédia humanitária que precisa ser resolvida com urgência. A comunidade internacional tem que encontrar uma solução. O cessar-fogo é fundamental, afinal, uma das regras é que deve, sempre que possível, evitar-se o sofrimento de civis. E não é isso que estamos presenciando. "Ninguém está seguro lá", afirmou Nazmieh Mohamed, 72 anos, uma das brasileiras repatriadas ontem da Cisjordânia ao desembarcar em Brasília.
No comunicado, o Unicef faz um apelo. Pede o fim dos ataques, seguindo as regras do direito humanitário internacional. "As crianças já suportaram muita coisa. A matança e o cativeiro de crianças devem acabar. As crianças não são um alvo." É impossível não concordar.