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ARTIGO

Visão do Correio: Economia desaquecida pede ousadia do Banco Central

Um corte de um ponto percentual surpreenderia o mercado, mas atenderia às necessidades da indústria e do comércio sem comprometer os objetivos monetários

Servidores do BC se julgam desprestigiados frente a outras carreiras -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Servidores do BC se julgam desprestigiados frente a outras carreiras - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
postado em 29/11/2023 06:00

Há claros indicadores mostrando que a economia brasileira vai desacelerar no terceiro trimestre deste ano, o que ficará mais evidente no início de dezembro, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do período de julho a setembro deste ano. O mercado financeiro projeta uma retração próxima de 0,5%, como reflexo, principalmente, do recuo no setor de serviços, cujo desempenho ficou negativo por dois meses seguidos, em agosto (-1,3%) e setembro (-0,3%). Lembrando que o segmento responde por cerca de 70% do PIB, é de se esperar, de fato, que a economia tenha queda no terceiro trimestre. E há mostras de que esse esfriamento da atividade economica continue no último trimestre do ano.

A frustração do varejo com a realização da Black Friday pelo segundo ano consecutivo — as estimativas são de queda de 15% nas vendas do comércio on-line neste ano — mostra um varejo com baixo crescimento e uma indústria que está estagnada. Embora o desemprego tenha caído no terceiro trimestre, o endividamento alto das famílias ainda trava o desempenho mais forte da economia. Outro dado que aponta para a retração e estagnação da economia é a arrecadação de impostos, que ficou praticamente estável em outubro, com destaque para a redução de 8,59% no recolhimento do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Por outro lado, a taxa de inflação continua dando mostras que está desacelerando e convergindo para o centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de 3,5% no médio prazo, sendo que em 2023, a inflação deve fechar em 4,65% – pelas projeções do mercado financeiro –, ficando abaixo do teto da meta pela primeira vez em três anos. São razões de sobra para se concluir que as taxas de juros no Brasil estão ainda muito altas, mesmo com as reduções feitas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nas últimas três reuniões. A taxa básica, hoje em 12,25%, com a projeção de queda da inflação nos próximos 12 meses, deixa o Brasil com a segunda maior taxa de juros real do mundo, atrás apenas do México.

É pouco provável, mas necessário que o Banco Central seja um pouco mais ousado na flexibilização do arrocho monetário, para que o desaquecimento econômico não corra o risco de se transformar em uma recessão técnica – dois trimestres seguidos de retração na geração de riqueza. É certo que, na sua próxima reunião, em 10 e 11 de dezembro, o Copom promoverá novo corte de 0,5% ponto na taxa Selic, que assim encerrará o ano em 11,75%. Um corte de um ponto percentual surpreenderia o mercado, mas atenderia às necessidades da indústria e do comércio sem comprometer os objetivos monetários, uma vez que o próprio mercado financeiro projeta uma Selic em 9,25% no próximo ano.

O corte de um ponto percentual frustrará a expectativa do mercado financeiro, mas na prática apenas por um costume, uma vez que a inflação e a própria taxa Selic são vistas pelos agentes financeiros como em descendência. O que vai ocorrer com a postura diferente do Banco Central na próxima reunião dos diretores é demonstrar atenção também ao desempenho da economia brasileira no curto prazo. Além disso, o Copom pode promover um corte maior dos juros agora e preservar a taxa na reunião do início de 2024. Não se espera, mas é necessário um pouco mais de ousadia dos diretores do Banco Central neste momento.

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