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Racismo

Artigo: Nobreza do samba

Chamada de "cisne da passarela", Vilma Nascimento brilhou intensamente ao conquistar o título de melhor porta-bandeira nos desfiles de 1977, 1978 e 1979

Vilma Nascimento, porta-bandeira da Portela, foi homenageada em evento no Congresso -  (crédito: Evandro Éboli/CB/D.A. Press)
Vilma Nascimento, porta-bandeira da Portela, foi homenageada em evento no Congresso - (crédito: Evandro Éboli/CB/D.A. Press)
postado em 28/11/2023 06:12

 "Como é que eu posso por ela trocar/ A emoção de ver Vilma dançar/ Com seu estandarte na mão..."

 Esse é um trecho da letra de O Conde, que se transformou num dos maiores sucessos de Jair Rodrigues na década de 1970. No samba, Jair Amorim e Evaldo Gouveia exaltavam Vilma Nascimento, que fez história como porta-bandeira.

Embora tenha iniciado sua trajetória no carnaval carioca, como passista, na extinta União de Vaz Lobo, foi empunhando o pavilhão da Portela que Vilma chamou a atenção dos jurados e do público nos desfiles das escolas de samba. Na época, o principal evento do carnaval carioca ocorria na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro.

Ela foi levada para a Portela pelo mitológico Natal, presidente da agremiação de Madureira, que a descobriu assistindo a um espetáculo na boate Night and Day, do qual ela era uma das estrelas. A casa noturna da Zona Sul carioca oferecia shows dirigidos por Carlos Machado, proprietário do estabelecimento.

Quando a viu em cena, o manda-chuva portelense não teve dúvida: subiu ao palco e a convidou para ser integrante da azul e branco de Madureira. Pelo visto, ele sabia o que estava fazendo. Chamada de "cisne da passarela", ela brilhou intensamente ao conquistar o título de melhor porta-bandeira nos desfiles de 1977, 1978 e 1979.

Na última semana, Vilma esteve em Brasília e, aos 85 anos, conviveu com sensações antagônicas. Segunda-feira, homenageada na Câmara dos Deputados, foi tratada como ícone da cultura brasileira, durante a celebração do Dia da Consciência Negra.

Um dia depois, no Aeroporto JK, antes do retorno ao Rio, segundo a filha Danielle, que a acompanhava, Vilma foi humilhada, ao ser abordada por uma fiscal da Duty Free que a acusou de ter furtado produto da loja e instada a abrir a bolsa por um segurança. "Foi uma humilhação que nem eu, nem minha mãe imaginávamos passar nesta vida (...) Cheguei a perguntar se ela (a segurança) estava fazendo isso conosco por causa da nossa cor", relatou Danielle.

O ocorrido foi repudiado, com indignação, por autoridades da República, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Anielle Franco, da Igualdade Social. Portelense emérito e uma nobreza do samba, assim como Vilma Nascimento, Paulinho da Viola também se manifestou com veemência, em texto postado no instagram e enviado ao colunista: "Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa cena lamentável (...) Apesar de todos os esforços que temos feito para combater esse preconceito, ele acontece diariamente toda vez que uma pessoa é agredida, humilhada, constrangida e ferida dessa maneira. Eu também me sinto ferido. Sinto muito, querida Vilma, sinto mesmo. Você é muito maior que tudo isso".

No sábado, Paulinho voltou a encantar o brasiliense em apresentação no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ao revisitar sua obra potente, constituída de sambas clássicos, como Acontece, Argumento, Coração leviano e Dança da solidão, foi aplaudido delirantemente por 4 mil pessoas. Em meio ao show, lembrou que foi criador e presidente da Ala dos Compositores da escola. Para ela, fez Foi um rio que passou em minha vida, o samba que é considerado o mais popular, entre tantos que compôs e que se tornou um clássico. Num dos versos, ele canta: "Ai minha Portela, quando vi você passar/ Senti meu coração apressado/ Todo meu corpo tomado, minha alegria voltar..."

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