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Saúde

Parcerias abrem caminhos para novos tratamentos de doenças negligenciadas

Cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo são afetadas por essas enfermidades, excluídas do clássico sistema de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos ou recebem pouco investimento e descoberta de terapias mais eficazes, seguras e acessíveis

Na Chácara Santa Luzia, a falta de Infraestrutura prejudica o combate à dengue -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
Na Chácara Santa Luzia, a falta de Infraestrutura prejudica o combate à dengue - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)
Sergio Sosa-EstaniDiretor da Organização Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) na América
postado em 22/11/2023 06:00

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo são afetadas por doenças negligenciadas, grupo constituído por 20 enfermidades que estão fora do clássico sistema de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos ou recebem pouco investimento para inovação e descoberta de terapias mais eficazes, seguras e acessíveis. Em geral, essas doenças atingem aqueles que estão em situação de vulnerabilidade, com impactos sociais e econômicos devastadores.

Para enfrentar esse cenário, a organização internacional sem fins lucrativos Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês), criada em 2003, adota um modelo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em parcerias, buscando um objetivo comum: implementar novas alternativas ao sistema tradicional de P&D, baseadas não no lucro, mas nas necessidades das pessoas acometidas por essas doenças. A potência do modelo de parcerias é reunir, nas esferas públicas e privadas, o setor acadêmico, instituições de pesquisa, ONGs, governos, sistemas de saúde, indústrias farmacêuticas e de biotecnologia, sociedade civil organizada, grupos de apoio a pacientes, entre outros

A metodologia tem se aprimorado a partir das experiências acumuladas e da ampliação de uma rede global de mais de 200 parceiros em cerca de 50 países. Em cada projeto, há pelo menos um ou vários colaboradores. Juntos, disponibilizaram 12 tratamentos para populações negligenciadas.

A capacidade de construir alianças tem se mostrado fundamental, pois um bom resultado em uma fase do processo precisa estar adequadamente incorporado em uma cadeia de produção. Caso contrário, será tão somente um resultado pontual. Essa articulação é baseada em três pilares. O primeiro abrange o desenvolvimento da pesquisa básica, pré-clínica, transnacional, clínica e de registro. Mas para que isso seja possível, é necessário ter uma rede de pesquisadores, com capacidade e interesse em atuar em colaboração, praticando ciência aberta — eis o segundo pilar. Já o terceiro pilar é dedicado aos projetos para garantir o acesso ao medicamento.

A partir dos projetos em parcerias estratégicas, foram criados ecossistemas de P&D em áreas endêmicas para doenças negligenciadas que antes não existiam. Isso é muito claro na África, na Índia e em alguns países da América Latina, como a Bolívia.

Além disso, para posicionar as doenças negligenciadas, que pouco têm voz, em debate na sociedade e entre os tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas, a DNDi interage em diferentes níveis: nacionais, supranacionais e em fóruns internacionais.

No Brasil, está atenta à estratégia lançada, em setembro, pelo governo federal para retomar o desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, com investimento de R$ 42 bilhões. Um dos pilares será o Programa para Populações e Doenças Negligenciadas.

No país, avanços importantes vêm ocorrendo, em parcerias com a comunidade acadêmica. Com a Universidade de São Paulo (USP), foi dado um novo passo para a busca de novos tratamentos para a doença de Chagas, enfermidade que acomete cerca de 6 milhões de pessoas na América Latina. Pesquisadores iniciaram a testagem de moléculas candidatas a medicamentos em um modelo in vivo bioluminescente, que, por ser mais sensível, facilita e acelera o processo que verifica se um determinado composto químico apresenta uma ação inibidora contra a Trypanossoma cruzi — parasita causador da doença — e se existem focos remanescentes de infecção após o tratamento.

Com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há experimentos para desenvolver um modelo in vivo para testes de potenciais novos medicamentos contra leishmaniose cutânea, doença endêmica em 19 países da América Latina, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Os tratamentos atualmente disponíveis são caros e longos, têm eficácia limitada e dependem de injeções dolorosas que geram efeitos colaterais.

A DNDi promoverá, no próximo dia 28, um evento em que serão discutidas soluções estratégicas e entraves na área de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas. Com a participação de especialistas nacionais e internacionais e lideranças políticas, o encontro, a ser realizado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, uma das instituições fundadoras e parceiras, abordará as potencialidades da América Latina no setor e projetos intercontinentais, como o da dengue, que nasceu articulando diversos países, entre eles o Brasil.

 


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