NULL
Eleições

Visão do Correio: A escolha dos argentinos

Todas as pesquisas de intenções de votos apontam que qualquer dos dois candidatos — Sergio Massa, de centro-esquerda, e Javier Milei, da direita radical — pode sair vitorioso

O segundo turno da eleição presidencial na Argentina será disputado entre Sergio Massa e Javier Milei       -  (crédito: JUAN MABROMATA, TOMAS CUESTA / AFP)
O segundo turno da eleição presidencial na Argentina será disputado entre Sergio Massa e Javier Milei - (crédito: JUAN MABROMATA, TOMAS CUESTA / AFP)
postado em 19/11/2023 06:00

Os argentinos vão às urnas neste domingo em meio a um grande suspense. Nunca o país chegou a um pleito presidencial tão dividido como agora. Todas as pesquisas de intenções de votos apontam que qualquer dos dois candidatos — Sergio Massa, de centro-esquerda, e Javier Milei, da direita radical — pode sair vitorioso com uma pequena margem de diferença em relação ao oponente. A indefinição é tamanha que a economia argentina, com inflação anual de 143%, praticamente parou à espera da decisão dos eleitores.

A Argentina está em crise há mais de duas décadas. Sucessivos planos econômicos fracassados empurraram o país para um buraco que parece não ter fundo. Políticas econômicas ineficientes e escolhas erradas nas urnas contribuíram para o caos que levou a nação vizinha a ostentar a triste estatística de ter mais de 40% da população na pobreza. Os programas sociais adotados ao longo dos últimos anos não foram suficientes para fazer frente à escalada dos preços. Os mais ricos abandonaram a moeda local, o peso, e buscaram proteção no dólar.

Em meio a esse tormento sem fim, o ultradireitista Milei conseguiu aglutinar apoio das camadas mais desfavorecidas, dos jovens e, sobretudo, da elite argentina. Com um discurso de rompimento com tudo o que está estabelecido, promete acabar com o Banco Central, romper com Brasil e China, os dois principais parceiros comerciais da Argentina, sair do Mercosul, dolarizar a economia e promover um enxugamento sem precedentes do Estado, com o fim de todos os subsídios e programas sociais.

Massa, por sua vez, é o atual ministro da Economia de um governo sem qualquer representatividade. Há um ano e meio no posto, vem pregando que pode promover os ajustes necessários na economia para conter a inflação, ampliar as exportações, atrair investimentos estrangeiros e dar um novo alento ao povo tão sofrido. Nos pronunciamentos mais recentes, tem assegurado que, com o fim da seca que devastou o agronegócio, o país voltará a ser um dos celeiros do mundo, criando empregos e distribuindo renda.

Para que lado penderá a maioria dos eleitores só se saberá depois de abertas as urnas. O certo é que o risco de uma radicalização, seja quem for o vencedor, pode levar a Argentina a conviver com fenômenos muito parecidos com os vistos no Brasil. Nas últimas semanas, Milei e seguidores mais fanáticos passaram a questionar a seriedade do sistema eleitoral argentino. Ele afirma que foi roubado nas primárias que o definiram como candidato e no primeiro turno da disputa presidencial. O argumento está pronto para ser usado em caso de derrota.

Por mais que os argentinos estejam insatisfeitos com os rumos da economia, o desemprego e a inflação aviltante, é preciso que saibam preservar a democracia conquistada a tanto custo, depois de um longo e sangrento período ditatorial. Não pode haver espaço para que radicais tentem atacar os pilares democráticos, como ocorreu nos Estados Unidos, com a invasão ao Capitólio, e no Brasil, com a destruição das sedes dos Três Poderes. As duas maiores democracias das Américas foram abaladas e os riscos de destruição continuam presentes.

Escolhas à direita ou à esquerda não significam a usurpação do direito mais sagrado dos eleitores, que é o voto. O poder de escolha previsto na Constituição argentina deve se sobrepor a qualquer tentativa de minar o sistema político em vigor que, se não é perfeito, é o que garante a alternância de poder e permite à sociedade decidir seu futuro. O mundo, sabe-se, vive um momento complexo. Há, hoje, mais autocracias e regimes autoritários do que democracias. A Argentina certamente sabe em que direção pretende ir. Mas qualquer descuido pode resultar num caminho sem retorno. Todo poder neste domingo está com os eleitores.


Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->