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MEIO AMBIENTE

Brasil: parceiro na reconstrução verde da Ucrânia

A partir da devastação é possível criar pontes para adotar meiddas que garantam o crescimento sustentável

Esta foto de folheto tirada e divulgada pelo Serviço de Emergência do Estado Ucraniano em 20 de agosto de 2022 mostra um prédio residencial destruído após um bombardeio na cidade de Voznesensk, em meio à invasão russa da Ucrânia. - Nove ucranianos, incluindo quatro crianças, ficaram feridos em 20 de agosto de 2022 depois que as forças russas atacaram um bloco de apartamentos e várias casas na cidade de Voznesenk, perto de uma importante usina nuclear, disse um governador regional. -  (crédito: Handout / Ukrainian State Emergency Service / AFP)
Esta foto de folheto tirada e divulgada pelo Serviço de Emergência do Estado Ucraniano em 20 de agosto de 2022 mostra um prédio residencial destruído após um bombardeio na cidade de Voznesensk, em meio à invasão russa da Ucrânia. - Nove ucranianos, incluindo quatro crianças, ficaram feridos em 20 de agosto de 2022 depois que as forças russas atacaram um bloco de apartamentos e várias casas na cidade de Voznesenk, perto de uma importante usina nuclear, disse um governador regional. - (crédito: Handout / Ukrainian State Emergency Service / AFP)
postado em 14/11/2023 06:00

A invasão da Rússia provocou um desastre ambiental na Ucrânia. Mas, a partir dessa devastação, é possível criar pontes para adotar medidas que garantam o crescimento sustentável. Nessa reconstrução ucraniana, o Brasil tem um acúmulo de conhecimentos e experiências para compartilhar, em benefício de ambos os países. Não se pode subestimar a escala dessa tarefa. A Ucrânia, vítima de invasão militar de grande magnitude, não provocada, foi alvejada por uma quantidade de projéteis comparável à da Segunda Guerra Mundial. Mais de um milhão de hectares de floresta foram destruídos ou cobertos de minas explosivas. Dezenas de espécies animais, ameaçadas de extinção, foram quase dizimadas.

Entre os horrores da invasão está a ofensiva insensível que levou à destruição da represa de Kakhovka, onde as forças russas abriram um buraco de 85 metros de comprimento, causando uma inundação de, em média, cinco metros de profundidade na área afetada. Houve morte de pessoas e animais no caminho das águas e, ainda, danos graves às terras férteis. É difícil compreender um ato tão atroz e assassino.

Ainda mais assustador é o controle da Rússia sobre a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, resfriada pela água da represa de Kakhovka. Essa é a primeira vez na história que militares ocupam uma instalação nuclear e isso levanta o espectro de um desastre nuclear que pode eclipsar a catástrofe de Chernobyl em escala, com enormes implicações ambientais para o mundo todo.

Com a crise ambiental na Ucrânia decorrente dessa invasão injusta, minha visita ao Brasil, em novembro, é uma oportunidade para observarmos e aprendermos como o país tem enfrentado ameaças comuns à biodiversidade e ao clima. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é reconhecido como um defensor de políticas verdes que combinam sustentabilidade com a necessidade de empregos dignos, serviços públicos decentes e crianças saudáveis. Embora existam diferenças nos desafios que enfrentamos, há também semelhanças marcantes.

Tanto o presidente Lula quanto o presidente Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, estão comprometidos com a implementação de um Acordo Verde. Compartilham a visão de uma transição ecológica que se afasta dos combustíveis fósseis e busca diversificar o fornecimento de energia, fundamental para a segurança energética global.

Ambos os líderes creem ser preciso agir com urgência, no investimento em energia renovável e em desenvolver métodos agrícolas favoráveis à natureza. O presidente Lula responde há anos à devastação e às queimadas da Amazônia e a outros biomas brasileiros. O presidente Zelensky enfrenta a tarefa de reconstruir um país devastado pela guerra.

O Brasil é um parceiro óbvio do governo ucraniano, na reconstrução de um país mais verde. A reconstrução pós-guerra trará centenas de bilhões de dólares de investimento para os setores de energia, industrial e agrícola na Ucrânia, país com a maior área geográfica na Europa.

Marcamos reuniões com ONGs, líderes governamentais e empresariais, entre outros, no Brasil, para discutir como trabalhar juntos. Novas regras da Europa, como o Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras (CBAM), obrigarão nossos exportadores a cumprir metas climáticas cada vez mais rigorosas. Devemos colaborar com o Brasil, que enfrenta os mesmos desafios na Europa e nas Américas. Nossas respectivas crises nos forçam a agir. A destruição na Amazônia e o horror da guerra na Ucrânia não impedem — na verdade, aceleraram — nossas políticas e abordagens pró-clima.

Há soluções muito inovadoras. Ambos os países enfrentaram o desafio do financiamento climático com ferramentas como títulos verdes e empréstimos acessíveis. A experiência de liderança mundial do Brasil na bioenergia é extremamente interessante para a Ucrânia, maior nação agrícola da Europa. Gostaríamos de contar com sua ajuda brasileira para desenvolver nossa política de biocombustíveis, em apoio à descarbonização do setor de transportes. Também queremos aprender com o uso de fundos climáticos de desenvolvimento do Brasil.

A guerra não poupou nossas maravilhas naturais. O Parque Natural Nacional de Dzharylgach, área de beleza extraordinária e destino para aves migratórias de toda a Europa, foi destruído. Pântanos, florestas e habitats de flora e fauna ameaçadas de extinção foram arruinados. Para recuperar esses lugares preciosos, esperamos aprender com a luta do Brasil para salvar a Amazônia e outras áreas ameaçadas de degradação. Por essas e muitas outras razões, a Ucrânia espera ter, no Brasil, um amigo para reconstruir seu futuro.

Olha Yevstihnieievaio - Gerente de defesa do Acordo Verde e das reformas de transição verde na Ucrânia, assessora do chefe da Agência Estatal de Eficiência Energética e Economia de Energia da Ucrânia

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