O conceito de complexidade econômica, desenvolvido pelos cientistas César Hidalgo e Ricardo Hausmann, da Universidade de Harvard, se refere à capacidade de países produzirem uma ampla variedade de bens e serviços, combinando diferentes habilidades e conhecimentos. Para entender o conceito, imagine que uma economia é como um quebra-cabeça. Cada peça representa uma habilidade ou um conhecimento que é necessário para produzir um bem ou um serviço. Quanto mais peças um país tem, mais complexa é sua economia.
Economias mais complexas criam oportunidades de sinergias e fertilização cruzada, porque a produção de bens e serviços em diferentes setores pode gerar interdependências e complementaridades, criando oportunidades para o surgimento de produtos e serviços. Por exemplo, a indústria de tecnologia pode se beneficiar da produção de softwares, hardwares e equipamentos eletrônicos, e a indústria de cosméticos pode se beneficiar da produção de matérias- primas naturais, como óleos essenciais, extratos vegetais, pigmentos, corantes etc.
Complexidade econômica pode ser um importante indicador de capacidade competitiva e alcance de mercados por um país. Os idealizadores do conceito desenvolveram uma métrica — o Índice de Complexidade Econômica (ECI, Economic Complexity Index) — que dá uma estimativa da competitividade de um país com base na quantidade e na diversidade de produtos e serviços que exporta. Países que têm ECI alto produzem uma maior variedade de bens e serviços, o que tem boa correlação com o grau de diversidade da sua base industrial e com sua capacidade de inovação.
Países com economias mais complexas tendem a ser mais competitivos e resilientes, podendo, por exemplo, promover de forma mais célere a automação das suas indústrias ou se beneficiarem mais rapidamente de tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial. A Coreia do Sul é um exemplo de país que conseguiu aumentar sua complexidade econômica e se tornar desenvolvido e internacionalmente competitivo em relativamente pouco tempo. O país investiu fortemente em educação e treinamento, infraestrutura, inovação e integração internacional, tendo alcançado em 2021 a quarta posição no ranking global de complexidade econômica (ECI).
Países com economias pouco complexas, fundamentadas em recursos naturais, como o Brasil — que ocupou em 2021 a posição 49 no ECI — podem estar frente a uma oportunidade única para elevar sua complexidade econômica e diversidade industrial por meio da bioeconomia. Um novo paradigma econômico, que nasce inspirado na natureza, a bioeconomia utiliza recursos biológicos, como plantas, animais e microrganismos, para produzir produtos e serviços como solução para a sustentabilidade dos mais variados ramos industriais, em especial para substituição de recursos fósseis e não renováveis.
O fortalecimento da bioeconomia decorre do clamor global pela sustentabilidade, intensificado pela crise climática, pelo crescente risco de crises sanitárias e pandemias e pela desigualdade social que se agrava em todo o planeta. A partir dela, se busca a reconciliação entre os sistemas humanos e a natureza, consolidando a visão de que prosperidade econômica precisará estar associada à melhoria ambiental e social, e que o meio ambiente precisa ser visto como gerador de novas oportunidades de crescimento e inclusão.
Um estudo recente, desenvolvido pela Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) em parceria com a Embrapa Agroenergia, Senai, Cetiqt, CNPEM/MCTI e Laboratório Cenergia da UFRJ, revelou que a bioeconomia pode gerar um aumento de quase US$ 290 bilhões ao PIB brasileiro, além de reduzir as emissões de carbono em cerca de 550 milhões de toneladas, nos próximos 27 anos. O potencial econômico e ambiental da bioeconomia no Brasil é tão grande que o estudo está sendo aprofundado, com a inclusão de tecnologias emergentes, o que poderá indicar benefícios ainda maiores e novas oportunidades de diversificação industrial nos horizontes de 2030 e 2050.
A bioeconomia abre múltiplas oportunidades para a agricultura, setor historicamente associado à baixa complexidade industrial do Brasil. A reversão dessa percepção pode se dar pela capacidade que a agricultura tem de acessar recursos naturais com eficiência, o que pode inserir o país em vertentes industriais sofisticadas nos setores de alimentos e fibras, mas também de energia, química, materiais, dentre outros. Biorrefinarias associadas à agricultura poderão alimentar um diversificado parque industrial de base natural, posicionando o Brasil como produtor de matérias-primas e produtos renováveis em substituição à grande parte do que hoje se deriva do petróleo.
As possibilidades ficam ainda mais fascinantes quando se avalia que o Brasil tem um grande potencial para o desenvolvimento da bioeconomia em sinergia com a economia do hidrogênio, que é a fonte energética do futuro, porque é limpa, renovável e abundante. O país tem uma ampla gama de recursos que podem ser usados para produzir hidrogênio verde ou renovável a partir de energia solar, eólica e de biomassa. A sinergia entre esses dois setores pode abrir oportunidades para o Brasil liderar o desenvolvimento de uma diversificada base bioindustrial de baixo impacto e grande capacidade competitiva, em plena sintonia com a agenda global pela sustentabilidade.
Maurício Antônio Lopes - Pesquisador da Embrapa Agroenergia
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