O setor de alimentos e bebidas brasileiro tomou um susto nos últimos dias com o pedido de recuperação judicial da SouthRock, que controla as marcas Subway, Starbucks, TGI Friday’s e Eataly no Brasil. No pedido, inicialmente negado pela Justiça, a companhia afirmou que deve R$ 1,8 bilhão e citou os “atuais desafios e condições de mercado”. A situação acendeu um alerta para os desafios enfrentados pelas empresas e mostra que o ambiente de negócios segue desafiando gestores e companhias.
Passado o susto, o mercado se debruçou sobre a situação da SouthRock e respirou — com certo alívio. Afinal, uma dívida bilionária como a que a controladora da Starbucks acumulou não surge por acaso. Exige uma combinação de má gestão, erros de cálculo e confiança excessiva. A gota d’água para o pedido foi uma notificação, por parte da Starbucks norte-americana, matriz global da rede de cafeterias, de rescisão do direito de uso da marca no Brasil devido ao atraso nos pagamentos pelo licenciamento. No pedido de recuperação judicial, a SouthRock também citou “a crise econômica resultante da pandemia, a inflação e a permanência de taxas de juro elevadas” — três situações que vêm sendo inegavelmente controladas, ainda que com certa turbulência política.
Mas apesar dos erros de rota que levaram a empresa à bancarrota, a altíssima cifra também é um reflexo das barreiras que a SouthRock enfrenta no país. Afinal, não é segredo para ninguém que o ambiente de negócios brasileiro é altamente desafiador. Além de uma seríssima insegurança jurídica, com mudanças de regras ao sabor dos ventos, tem uma complexa carga tributária, uma burocracia extensa e um momento de instabilidade econômica, provocada por uma alternância entre a apreensão desnecessária e a euforia exagerada, que ocorrem desde antes de o ministro Fernando Haddad assumir a gestão da Fazenda — e se agravaram após a posse dele.
Nesse cenário, uma das chaves para descomplicar o ambiente de negócios é a aprovação da reforma tributária, discutida há anos no Brasil, e, atualmente, em tramitação no Congresso. Não que seja o único problema, mas a carga tributária brasileira é notoriamente complexa, com uma infinidade de impostos, taxas e contribuições que tornam a gestão financeira das empresas um desafio constante. A simplificação e a redução da carga tributária são medidas urgentes para tornar o país mais atraente para investidores nacionais e estrangeiros.
Além disso, a burocracia excessiva desencoraja os negócios. Processos demorados para abrir empresas, contratar funcionários e cumprir obrigações fiscais consomem tempo e recursos preciosos. Uma reforma que simplifique os procedimentos e torne mais eficiente a relação entre as empresas e o Estado é fundamental para estimular o empreendedorismo e o crescimento econômico.
O desafio do ambiente de negócios no Brasil é real e complexo, mas não insuperável. A outhRock não é a única empresa a enfrentar dificuldades nessa frente, e essa situação não deve ser vista como um caso excepcional. Independentemente do cenário mais complexo em que a controladora da Starbucks está envolvida, muitas empresas, em diferentes setores, estão lidando com os mesmos desafios na frente tributária.
O caminho para uma solução para esse ambiente desafiador passa justamente pela aprovação da reforma tributária, capaz de descomplicar o cenário empresarial e atrair investimentos. Também é crucial que o governo e o setor privado trabalhem juntos por melhorias. Isso significa não apenas reduzir a carga tributária e simplificar a burocracia, mas também resgatar a confiança, fundamental para o crescimento econômico. Essa situação estável só será conquistada com reformas estruturais consistentes e políticas públicas que promovam um ambiente mais amigável e previsível para os negócios.
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