O novíssimo ensino médio não endereça as raízes dos problemas da educação dos adolescentes do Brasil: estrutura física adequada, conectividade nas escolas, professores capacitados, alunos engajados para usar o ensino médio como trampolim para seus sonhos no mercado de trabalho e, finalmente, uma política de Estado de longo prazo para a educação, garantindo foco e recursos.
Estrutura física adequada. A estrutura física deveria incentivar o aprendizado e o convívio dos alunos, professores, pais, gestores e da comunidade. Deveríamos ter um ambiente que traga alegria e prazer de ser frequentado, fazendo os alunos quererem permanecer na escola, ampliar suas atividades e conviver com a comunidade para o aprendizado, esportes,artes e troca de experiências. Isso a reforma do novíssimo médio não endereça.
Conectividade nas escolas. Assim como o Iluminismo marca uma mudança de era na humanidade por trazer a razão como contraponto ao divino, a internet provoca uma nova mudança de era (Iluminismo inaugura os tempos modernos; a internet inaugura os tempos pós-modernos). E não é à toa que a internet é tão importante. Conectar as escolas com banda larga e equipamentos significa abrir as portas do mundo para pesquisa, leituras, diferentes culturas, outras visões e complementa os saberes dos docentes e a experiência dos alunos. Isso a reforma do novíssimo médio não endereça.
Professores capacitados. O Brasil não tem professores capacitados para o ensino médio. Ponto. O percentual de professores que ministram aulas de disciplinas que não são formados e não tem conhecimento chega até a 70% em alguns estados. Ou seja, se mal conseguimos ter mestres para ensinar português e matemática para todos os alunos do médio, como ensinaremos química, física e biologia, história, geografia e, agora, espanhol? Continuaremos sem ensinar. Isso a reforma do novíssimo médio não endereça.
O ensino médio deveria desaguar os alunos no mercado de trabalho preparados para serem capacitados em áreas específicas. Mas existe um desafio social gigante para a maioria das famílias brasileiras: focar no ensino médio ou em trabalhar e ajudar com as despesas da casa? Hoje, não é suficiente a hipótese de que as pessoas formadas no ensino médio tenham renda média maior do que os que não concluíram o médio para conseguir fazer as famílias optarem pelo estudo versus o trabalho precoce. Por isso, precisamos criar uma escola capaz de engajar os alunos para usar o ensino médio como trampolim para seus sonhos no mercado de trabalho. O resultado de um ensino médio de qualidade e seus resultados positivos no mercado de trabalho devem eliminar, para a maioria das famílias, a tentação de focar no trabalho e não na escola. Isso a reforma do novíssimo médio não endereça.
Por fim, o Brasil precisa de uma política de Estado para a educação. Uma política educacional suprapartidária e supragovernamental. Um arranjo entre poderes Executivo e Legislativo para tratar da educação em período superior ao de suas legislaturas. Um pacto que inclua os estados (no caso do ensino médio) e os municípios (no caso do ensino fundamental). Uma política que não só garanta um percentual mínimo de recursos do orçamento, mas que a aplicação desse recurso tenha destino prévio, de longo prazo. Isso a reforma do novíssimo médio não endereça.
Esse é o ponto mais relevante. Afinal, somente teremos estrutura física adequada ao aprendizado, escolas conectadas e equipadas, professores capacitados, alunos engajados para usar o ensino médio como trampolim para seus sonhos no mercado de trabalho, se, se somente se, houver uma política de Estado de longo para a educação, garantindo foco e recursos.
É válida a discussão de um novíssimo currículo para o ensino médio. Certamente é, mas há alguns anos, quando o "novo" ensino médio foi aprovado, vimos a dificuldade de implementação na prática. Agora, com o novíssimo ensino médio, veremos as mesmas dificuldades, as mesmas desculpas e mais uma geração de jovens perdidos.
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