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Urbanização

Artigo: os transportes e a mobilidade urbana em Brasília

Sendo Brasília a terceira metrópole do país, segundo o IBGE, temos que adequar a cidade a uma estrutura viária condizente com essa posição

opi 0111 -  (crédito: Caio Gomez)
opi 0111 - (crédito: Caio Gomez)
Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília - Opinião
postado em 01/11/2023 06:00

Muito já se debateu a respeito de como cada um vai de um lugar a outro em sua cidade e como o faz ao longo dos dias, meses e anos. As pessoas, de modo geral (e em número de usuários), utilizam o transporte público. No caso de Brasília, as pessoas se deslocam de casa ao trabalho, e vice-versa, nos ônibus e metrô em circulação. Um número grande de trabalhadores utiliza o automóvel, quando o tem, por ser do tipo "de porta a porta", com poupança de tempo e energia pessoal.

Temos insistido na tese de que "todos deveriam trabalhar próximo à residência". Todavia, a estruturação das metrópoles se fez no modelo radial: periferia-centro, o que acaba gerando enormes congestionamentos nas primeiras horas da manhã e em sentido contrário ao entardecer. Esse é o modelo existente em nossas metrópoles e na totalidade nos outros continentes. No caso dos trabalhadores, braçais ou não, devem comparar os custos para os deslocamentos nas cidades em que residem. É isso que determina o horário de se preparar para as atividades cotidianas.

Muitos gostariam de ter disponível um lugar de trabalho para ir de trem e retornar ao fim do dia. Quando não é possível, se submetem ao pouco espaço existente nos ônibus, superlotados nos horários de pico pela manhã e ao fim da tarde, pois não há um modelo de alternância de horários para o início das atividades no comércio, nos serviços e nas indústrias. Propugnei em seminário do Senado Federal, em 1974, que se organizasse o começo das atividades de forma escalonada para ter um contínuo uso dos transportes públicos, fugindo dos horários de pico e do congestionamento de veículos nesses horários. Mas se constata que isso aguarda implementação.

Por isso, sendo Brasília a terceira metrópole do país, segundo o IBGE, temos que adequar a cidade a uma estrutura viária condizente com essa posição.

As demais metrópoles, São Paulo e Rio de Janeiro, instituíram, há décadas, ramais ferroviários suburbanos, o que facilita o deslocamento de todos os que desejam se locomover na respectiva cidade. Brasília ainda não implantou trilhos com a quilometragem necessária para facilitar os deslocamentos de trabalhadores, funcionários e pessoas que desejam buscar algum serviço ou exercer atividades no núcleo central ou em outras regiões administrativas mais equipadas, como Taguatinga, Gama, Sobradinho e outras.

A capital federal ainda é cidade jovem, em relação às demais capitais estaduais — centenárias —, mas, em algum momento, deverá implantar a ferrovia necessária para retirar milhares de veículos que circulam no vai e vem das mais de três dezenas de regiões administrativas existentes no DF. Brasília detém uma disseminação de núcleos urbanos num território de apenas 5.800km2, o que é mais um fator para a superada quilometragem de rodovias, mesmo duplicadas, acabar não facilitando ou resolvendo a mobilidade populacional no dia a dia.

A circulação mais fluída de pessoas e de cargas/mercadorias será importante na medida em que, no aspecto da mobilidade intraurbana, Brasília é similar a qualquer uma das grandes cidades brasileiras. Constata-se que, em ruas e avenidas, há tráfego intenso, demorado ou congestionado em direção ao Plano Piloto todos os dias. O núcleo central é quase "cidade completa", no dizer do geógrafo e professor Milton Santos, pois detém os principais equipamentos e serviços para atender qualquer demanda da população, instituição privada ou pública.

Mesmo não sendo como as cidades antigas, Brasília desfruta ou tende a usufruir de serviços e postos de trabalho do terciário superior ou quaternário, tal como são os tribunais superiores, o Congresso Nacional e aquartelamentos das três armas — Marinha, Aeronáutica e Exército —, tal como consta dos planos e programas que a conceberam há mais de 60 anos.

Portanto, a capital federal possui todos os requisitos para ter os meios físicos de mobilidade urbana necessários para seus quase 3 milhões de habitantes. Nesses, não se contam os mais de 1 milhão de pessoas de sua periferia metropolitana, situada nos 12 municípios goianos contíguos ao DF. Ao longo do tempo, no passado, essa população periferizada poderia ter morado na capital, mas o valor dos imóveis — alto preço dos terrenos e aluguéis elevados — fez com que houvesse migrações contínuas para além dos limites do DF, e sempre obedecendo o padrão de mobilidade das demais metrópoles brasileiras. Para mudar essa mobilidade, somente será possível se houver descentralização de atividades que não necessitem estar no núcleo central, o Plano Piloto de Brasília.

 


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