Visão do Correio

Visão do Correio: Um Brasil melhor para os idosos

O Censo 2022 aponta que o país está caminhando para um processo de superenvelhecimento, sem que questões básicas, como educação e saúde, tenham sido resolvidas

Ao divulgar o mais novo retrato da população, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deixou claro o tamanho do desafio que o Brasil tem pela frente para garantir o bem-estar social, ainda uma promessa muito longe de ser cumprida. O Censo 2022 aponta que o país está caminhando para um processo de superenvelhecimento, sem que questões básicas, como educação e saúde, tenham sido resolvidas. Não há hoje e nem se vê para o futuro projetos que garantam melhores condições de vida aos idosos. Muitos são vistos como peso para a sociedade, percepção que tenderá a permanecer caso o Estado não assuma o papel que lhe cabe e que está especificado na Constituição Federal.

Pelos cálculos do IBGE, os brasileiros com 65 anos ou mais já representam 10,9% da população, o maior índice desde 1872, quando foi feito o primeiro recenseamento no país. Em 2010, essa parcela era de 7,4%. Há, portanto, 22,1 milhões de pessoas nesse grupo etário, das quais 4,6 milhões com mais de 80 anos. Infelizmente, muitos desses cidadãos envelheceram como seus antepassados, ou seja, dependendo de familiares ou como arrimo dos lares. Essa realidade decorre da falta de uma educação adequada, que empurrou muita gente para a informalidade ou para atividades que pagam pouco. A sobrevivência, em maioria, é com um salário mínimo pago pela Previdência Social.

Os números do IBGE mostram, portanto, que envelhecer bem no Brasil ainda é um privilégio para poucos. Apenas uma minoria branca pode dizer que conseguiu superar as barreiras impostas pela estrutura social estabelecida. Uma mulher negra, no geral, vai cuidar, primeiro, dos irmãos, e, depois, dos filhos, sem grandes perspectivas de vida. Para mudar esse quadro e reduzir as desigualdades na velhice, o Estado terá de ampliar o acesso à saúde. Hoje, há um subfinanciamento no Sistema Único de Saúde (SUS) que inviabiliza uma velhice funcional, principalmente entre mulheres, que são maioria da população, negros e pobres. As políticas públicas devem garantir uma infância saudável, por meio de uma medicina preventiva, para gerir idosos menos dependentes. Sabe-se que, com o envelhecimento, haverá mais necessidade de geriatras, oncologistas, cardiologistas e neurologistas.

Também será preciso um amplo projeto de requalificação de pessoas de 60 a 79 anos, que, no geral, estão com boa saúde e devem continuar no mercado de trabalho. O Japão está nesse processo. É uma forma de combater o etarismo, o preconceito contra os trabalhadores mais velhos, e permitir que esses cidadãos mantenham o poder de compra e continuem contribuindo para a Previdência, que terá pela frente, mantido o atual cenário, cada vez menos financiadores, pois a população jovem vem encolhendo substancialmente. O Brasil, por decisões equivocadas, perdeu a oportunidade de usufruir do bônus demográfico, quando a maior parcela da população está em idade produtiva. Quer dizer: o país envelheceu antes de ficar rico.

Nesse ponto, vale frisar: a faixa etária entre 0 e 14 anos não chega a 20% da população, a menor parcela da história. A taxa de fecundidade das mulheres está entre 1,6 e 1,7 filho, nível insuficiente para repor a população. Na Europa, onde a política de bem-estar social ainda é uma realidade e a população idosa tem uma certa dignidade, o envelhecimento está provocando sérios problemas, com os governos sendo obrigados a cortar direitos, gerando protestos por todos os lados. No Brasil, muitos desses direitos sequer saíram do papel, o que ampliam as insatisfações da sociedade. Não pode o Estado acreditar que apenas a preferência para ser atendido em filas de bancos e aeroportos satisfaz os mais velhos.

Ainda há tempo de mudar a cruel realidade que atormenta os idosos brasileiros, inclusive lhes garantindo o direito ao lazer. Mas sem o engajamento de governos, empresas, universidades e de toda a sociedade, pouco se avançará. O país não pode permitir que o destino dos idosos seja a pobreza e a dependência de todos os tipos. Velhice também combina com produtividade, inovação, respeito, alegria de viver. Velhice é sabedoria, não doença.

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