Meio ambiente

É urgente se posicionar na geopolítica econômico-climática

No caminhar sobre solo instável, enquanto as discussões nas Conferências do Clima avançam lentamente, alguns países ou blocos criam soluções unilaterais, impondo suas certezas ao globo.

O mundo enfrenta hoje cenário desafiador e sombrio, com duas guerras conflagradas, grave tensão entre Estados Unidos e China, além da emergência climática. No caminhar sobre solo instável, enquanto as discussões nas Conferências do Clima avançam lentamente, alguns países ou blocos criam soluções unilaterais, impondo suas certezas ao globo.

A União Europeia tem criado exigências duras, controversas e, muitas vezes, contaminadas por protecionismo, tomando para si o papel de potência regulatória global. Parte do conhecido Pacto Ecológico Europeu (ou Green Deal, em inglês), a Regulamentação da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) é exemplo disso ao estabelecer obrigação de diligências para que diversas commodities comprovem que não são produzidas em terras desmatadas.

Por outro lado, os Estados Unidos, por meio do IRA (Inflation Reduction Act, em inglês), pretendem impulsionar seus objetivos climáticos e reforçar a segurança energética via incentivos financeiros à economia verde — US$ 360 bilhões, já chancelados pelo Congresso daquele país.

O desenho de uma nova geopolítica econômico-climática vem ganhando contornos de realidade. Os grandes players já estão se posicionando e, a preço de hoje, o Brasil está ficando para trás. A negação a esses movimentos geopolíticos só pode resultar em grilhões que atrasarão ainda mais o país frente ao mundo. O Brasil precisa agir. Trata-se de assunto de Estado, que mira as futuras gerações de brasileiras e brasileiros.

É importante ressaltar que os esforços que coíbam o desmatamento são muito bem-vindos, mas as novas regras criadas na Europa, por exemplo, estabelecem metodologias de controle extremamente burocráticas e impõem dificuldades operacionais para as empresas. Tais dificuldades se traduzirão em custos que podem comprometer a concorrência equitativa. Quadros regulatórios como esses vão afetar, principalmente, as vendas das commodities mais relevantes da pauta da exportação brasileira, como soja, minério de ferro, carnes, açúcar, milho, celulose e café.

O Brasil precisa se mexer para pelo menos participar da regulamentação operacional dessas normas. A relação do país com o mercado externo é o que nos permite ter um agro pujante, gerador de empregos e divisas. Já temos modelos bem consolidados de setores que são líderes globais, aliando produtividade, inovação e sustentabilidade.

Entre as várias experiências notáveis no Brasil, uma delas é o setor de árvores cultivadas que preza pelo uso inteligente da terra, com respeito à natureza e cuidado com as pessoas. Planta, colhe e replanta árvores para fins industriais, e vem se expandindo sobre áreas já anteriormente degradadas e com baixa produtividade — hoje, totalizando 9,94 milhões de hectares de cultivo. Esse setor ainda conserva outros 6,73 milhões de hectares, uma extensão maior do que o estado do Rio de Janeiro. Competitiva, essa agroindústria é a segunda produtora global de celulose e a maior exportadora dessa commodity.

Temos ativos ambientais monumentais, decisivos para a mitigação das mudanças do clima; uma agricultura moderna, cada vez mais sustentável; e uma competente legislação para coibir a degradação ambiental. Frente a tamanhas vantagens ambientais e produtivas, o país não pode perder a oportunidade de estar entre as lideranças da nova economia verde.

Como parte dos esforços para remediar o tempo perdido, o Brasil precisa intensificar sua atuação em Bruxelas, uma tarefa apropriada para a diplomacia presidencial. A União Europeia ainda não compreende o significado das particularidades e riquezas do Brasil.

É fato que o país tem dever de casa. Precisamos seguir combatendo as ilegalidades, como o desmatamento, o garimpo e a grilagem, que corroem nossos ativos ambientais e penalizam mais de 25 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica. Mas também é urgente a atuação do Brasil de forma enérgica nas discussões sobre essas novas regulamentações, a fim de participar de processos que impactarão nossa economia e evitar que aceitemos, de forma passiva, medidas unilaterais disfarçadas sob o manto da sustentabilidade.

O planeta busca por fornecedores estáveis, confiáveis e sustentáveis de soluções que possam prover energia limpa, alimentos e outros produtos e serviços. Trata-se de chance histórica para o Brasil demonstrar seu potencial ao mundo e transformar oportunidades em ganhos, fazendo da economia de baixo carbono e das necessidades mundiais um motor para nosso desenvolvimento.

 


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