SEGURANÇA PÚBLICA

Análise: só a asfixia financeira será capaz de acabar com as milícias no Rio

Enquanto nada é feito, presenciamos dia a dia a degradação social da outrora Cidade Maravilhosa. Arrastões, assaltos à mão armada, tráfico de drogas à vontade, por exemplo, são cenas do cotidiano do carioca

"A violência é o clima de toda uma época"

A frase do escritor Antonio Scurati é sobre a situação de seu país natal, a Itália, na década de 1920, que vivia uma profunda crise econômica, política e social, mas encaixa-se como uma luva em relação ao Rio de Janeiro atual. As cenas de terrorismo praticadas no início da semana pela milícia, na Zona Oeste da capital fluminense, nada mais são do que a absoluta falência do Estado, com a clara falta de comando em funções estratégicas, principalmente da segurança pública.

Em entrevista ao programa CB.Poder, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, relembrou as investigações feitas pela CPI das Milícias, em 2008, na Assembleia Legislativa do Rio. Há 15 anos, Freixo era deputado estadual e presidente do colegiado. Teve um irmão morto pelos milicianos. "Origem da mílicia é no poder", crava o presidente da Embratur.

Hoje, sem sombra de dúvidas, está mais do que comprovado que a milícia não é um Estado paralelo. De uma forma geral, é o aparato estatal loteado e leiloado pelos que estão no poder. Tanto que será necessário o poder público cortar na própria carne para expurgar os milicianos. O crime organizado está nas entranhas das três esferas de poder. Dentro dos governos estadual e municipal.

O combate às milícias no Rio precisará ser estratégico e concentrado. Atacar o crime organizado é tarefa para o governo federal e as instituições que consigam rastrear e bloquear vultosas quantias de dinheiro ilegal. Não dá para ficar com delegacias de bairro. Vejo que será necessária uma espécie de Operação Mãos Limpas na Cidade Maravilhosa — nos anos 1990, com o apoio e sob pressão da opinião pública, ocorreu uma grande ação contra a corrupção na Itália, com a extinção de muitos partidos políticos, levando muitos industriais, autoridades, advogados e magistrados à prisão.

Somente a asfixia financeira será capaz de acabar com o poder dos milicianos. Sem dinheiro, o império vai ruir. O cerne do problema é que muita gente fatura alto com esse "bolo da morte". Enquanto nada é feito, presenciamos dia a dia a degradação social da outrora Cidade Maravilhosa. Arrastões, assaltos à mão armada, tráfico de drogas à vontade, por exemplo, são cenas do cotidiano do carioca. O Estado está falido no Rio. Em todos os sentidos.

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