Levantamento recente — "Education at a Glance 2023 —, feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revelou que os investimentos do Brasil no ensino superior chegam à média dos países desenvolvidos. Em contrapartida, são três vezes menores em relação à educação básica. Uma discrepância que fica ainda mais acentuada com um histórico de descontinuidade de investimentos no setor. Sem desfavorecer as universidades federais e as demais etapas do ensino, o governo federal está focado na educação básica, a fim de reduzir o analfabetismo entre as crianças e a evasão escolar. Hoje, o analfabetismo é realidade para cerca de 32 milhões de crianças.
Entre 2019 e o ano passado, mais do que dobrou o número de crianças entre 7 e 9 anos que não sabem ler, segundo estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma das causas dessa triste realidade foi a pandemia da covid-19, que eclodiu no início de 2020 e impôs o isolamento social. Escolas foram fechadas, a educação a distância não foi acessível a todos, entre outras dificuldades que romperam com a normalidade no processo educacional, bem como em todos os setores e na vida dos brasileiros. Outra razão foi o desmonte do Ministério da Educação nos últimos quatro anos.
Em entrevista ao Correio, o ministro Camilo Santana coloca a alfabetização das crianças, na idade certa, como a etapa mais importante do ensino. Segundo ele, uma criança que não aprende a ler e a escrever terá seu ciclo escolar comprometido. O ministro acrescenta que esse é também um dos motivos da evasão escolar, da distorção idade e série, do aumento do abandono e da reprovação. Para vencer esse desafio, o ministro cita o diálogo com os governos estaduais e municipais; os programas sociais, como Bolsa Família, Primeira Infância e outros exemplos cunhados da sua experiência como governador do Ceará. Os avanços conquistados pelo Ceará na educação, colocou o estado como exemplo a ser seguido por outras unidades federadas.
Mas, além dessas medidas, a educação em tempo integral ganha posição de destaque na revisão da política educacional do país. O propósito é tornar a escola um ambiente atraente para crianças e jovens, oferecendo não só o conteúdo da grade curricular, mas também alimentação, atividades criativas, esportivas, culturais e acesso ao mundo do virtual. Na visão do ministro, trata-se de uma política de segurança e de prevenção da violência. O modelo prevê que, no ensino médio, as escolas ofereçam ensino técnico, atendendo a uma demanda dos jovens.
A estratégia do governo, sustentada no tripé alfabetização, escola de ensino integral e conectividade tem fortes indicativos que poderá suprir as necessidades do país. Uma mudança de 180º em relação ao que vinha sendo projetado em governos passados. Nesse aspecto, a política de educação não pode ser de autoria desta ou daquela administração. Mas instrumento indispensável para a erradicação das mazelas sociais e econômicas que envergonham o país.
Impõe-se como importante que os bons resultados alcançados se tornem política de Estado, dissociada de matizes ideológicos e partidários. Está mais do que comprovado que a educação, em todos os níveis, é o pilar do desenvolvimento de um país. Aos 523 anos, o Brasil está atrasado. No cenário internacional, ainda é visto como país em desenvolvimento, quando poderia, há muito, estar no patamar das nações desenvolvidas.