Saúde

Artigo: Inovação, inclusão e cooperação na saúde suplementar

O setor sofre forte pressão devido à maior demanda por serviços, à alta dos custos desses atendimentos e dos preços de insumos médicos, à maior velocidade de incorporações tecnológicas, como medicamentos e terapias de alto custo

Os desafios que a saúde suplementar enfrenta constituem um risco não apenas ao equilíbrio financeiro das operadoras, mas principalmente à manutenção do acesso de milhões de brasileiros aos planos de saúde e à possibilidade de se ampliar esse benefício a mais pessoas. O setor sofre forte pressão devido à maior demanda por serviços, à alta dos custos desses atendimentos e dos preços de insumos médicos, à maior velocidade de incorporações tecnológicas, como medicamentos e terapias de alto custo, às alterações regulatórias que trouxeram instabilidade e provocaram o crescimento da judicialização, ao aumento de fraudes, entre outros fatores. O debate de soluções para equacionar esses problemas deve ter foco na inovação, na inclusão e na cooperação.

Um dos principais segmentos da economia brasileira, os planos de saúde injetam na rede de serviços médico-hospitalares do país R$ 224 bilhões por ano, segundo o Mapa Assistencial publicado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nos últimos anos, o setor tem focado na inovação para aumentar a eficiência em toda a cadeia de assistência, garantir mais qualidade, combater fraudes e reduzir custos. As operadoras estão investindo em aplicações de analytics, big data e inteligência artificial, para aperfeiçoar processos. Nesse sentido, o intercâmbio e as parcerias com startups, investidores e incubadoras também têm alcançado resultados positivos.

Os planos de saúde figuram como o terceiro maior desejo de consumo entre os brasileiros, conforme pesquisa encomendada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Contudo, apesar do aumento de beneficiários nos últimos meses, que chegaram a 50,7 milhões em julho de 2023, conforme a ANS, o setor terá de desenvolver respostas eficazes para o desafio estrutural da transição demográfica, com o consequente envelhecimento da nossa população e as novas demandas assistenciais geradas nesse cenário. Para se ter ideia, na última década, o grupo de beneficiários com mais de 60 anos cresceu 33%, enquanto a parcela entre 20 e 59 anos, que acessa a cobertura suplementar principalmente pela via dos empregos formais, teve expansão de apenas 2,4% no mesmo período.

Além disso, pesquisa da consultoria WTW, divulgada pela imprensa em agosto, revelou que o custo com plano de saúde pressiona o pacote de benefícios oferecidos por empresas, que já estão adotando a divisão do custeio com os colaboradores. Atualmente, os contratos empresariais respondem por 70% do mercado. Esse é mais um indicador que aponta que o cenário atual pode levar à exclusão de beneficiários, em lugar da desejada inclusão, e expõe o risco de os planos de saúde se tornarem artigo de luxo, acessível apenas à parcela da população com maior poder aquisitivo. O modelo de cooperação teve um papel fundamental para a expansão da saúde suplementar no Brasil.

O cooperativismo, por meio de sua capilaridade, permitiu a interiorização da medicina de qualidade em todas as regiões do país, alcançando hoje mais de 90% dos municípios brasileiros. Com vocação para a inovação e o compromisso com a coletividade e a comunidade, as cooperativas médicas conhecem de perto a realidade e as necessidades de saúde em cada local onde atuam – e estão preparadas para contribuir com a busca de soluções que possibilitem sanar os problemas que o setor enfrenta.

A saúde suplementar é um dos pilares do sistema de saúde brasileiro, atendendo a 25% da nossa população, e é essencial para aliviar a pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que embora seja uma conquista e um direito constitucional de todos os cidadãos, enfrenta demanda crescente e cada vez mais complexa, com recursos limitados. Portanto, a ampliação do acesso aos planos de saúde, de forma segura e sustentável, para mais pessoas, deve ser uma premissa no debate sobre mudanças na regulamentação do setor, como parte integrante da política pública de saúde do país.

*Omar Abujamra Junior, médico ginecologista e obstetra e presidente da Unimed do Brasil

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