No momento em que escrevo esse artigo, surge a notícia de que 500 palestinos morreram em um bombardeio a um hospital de Gaza. Crime de guerra. Enquanto você lê este texto, é provável que centenas de inocentes, tomados pelo desespero e pelo medo, tentem se agarrar à vida sob os escombros de outros prédios. Milhares de moradores do enclave buscam um refúgio que não existe. Todo e qualquer lugar em Gaza é vulnerável às bombas. Fugir não significa segurança. Gaza está blindada. De um lado, o Mediterrâneo e as patrulhas israelenses. Do outro, a cerca bilionária que, teoricamente, deveria resguardar Israel, e dois pontos de passagem: Rafah e Erez. Viver em Gaza é estar condenado à opressão, à ocupação e à desesperança. É ter a morte em seu calcanhar o tempo todo. Como escrevi na semana passada, os ataques de 7 de outubro, no sul de Israel, são dantescos, vis, covardes, repugnantes, absurdos e injustificáveis.
Mas, em uma região onde, historicamente, sangue se paga com sangue, Israel não deveria impor a punição coletiva à população civil. Em 12 dias de guerra, cerca de 3 mil palestinos foram dizimados; outros milhares tiveram seu lar transformado em uma pilha de concreto. O bloqueio imposto a Gaza exacerba o sofrimento histórico de um povo. É justo castigar 2,3 milhões de pessoas pela ação maquiavélica de pouco mais de 10 mil ou 15 mil assassinos que insistem em fazer o mundo crer que lutam pela causa palestina? Para especialistas, Israel repete em Gaza um pogrom — perseguição sistemática a uma etnia ou religião — do qual foi vítima.
Deter a matança no Oriente Médio é a única opção plausível no momento. A sede de vingança — Israel insiste que isso é justiça — empurrará a região a um conflito de proporções inimagináveis. Nos últimos dias, Israel bombardeou Líbano e Síria. De sua fronteira norte, a milícia xiita Hezbollah tem lançado ataques contra patrulhas israelenses. Estive na região da Alta Galileia em março passado. As casas de vilarejos erguidos em vales e montanhas, em meio a uma paisagem idílica, escondem dezenas de milhares de mísseis prontos para serem lançados contra Israel pelo Hezbollah. O Irã também ameaça atacar o Estado judeu em represália ao massacre do povo palestino.
É preciso parar com essa massacre. Eu me solidarizo com a dor das famílias de mais de 1,4 mil israelenses que tiveram suas vidas ceifadas de modo selvagem, vítimas de barbáries inimagináveis. Mas, também, com o luto e o desespero dos entes queridos de 3 mil palestinos mortos por uma política de Estado. Se as Forças de Defesas de Israel e seu serviço de inteligência, que se mostrou falho, executassem operações terrestres em Gaza contra o Hamas, talvez tivessem mais resultado, em menos tempo, e poupassem vidas civis. Sujar as mãos de sangue para vingar seus mortos não trará paz. Apenas mais ódio.