É com consternação e impotência que o mundo assiste, desde 7 de outubro, às cenas da guerra deflagrada entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza. O conflito, que já matou cerca de 1.400 israelenses e 2.500 palestinos, é o mais sério em décadas, e as imagens de todas as vítimas da violência dos dois lados têm chocado a opinião pública.
Nos últimos dias, a escalada de tensão tem sido constante. Israel determinou uma evacuação geral do norte da Faixa de Gaza, movimentando 1,1 milhão de pessoas pelo território, em um óbvio preparativo para uma invasão por terra. Do outro lado, o Hamas promete resistir à entrada do Exército israelense, e grupos radicais, como o Hezbollah, do Líbano, têm prometido se engajar no conflito, o que tem potencial para arrastar toda a região em uma guerra generalizada, envolvendo, ainda, países como Síria, Arábia Saudita e Irã.
Os organismos internacionais, por enquanto, voltaram a decepcionar. As reuniões na Organização das Nações Unidas (ONU), um fórum que deveria ser a voz da razão e da cooperação internacional, têm se mostrado frustrantes. É inegável que o Conselho de Segurança, com seus vetos e geopolítica muitas vezes paralisantes, não tem sido capaz de fornecer uma solução eficaz, como a reunião na última sexta-feira provou. No encontro, presidido pelo Brasil, as potências não conseguiram chegar a um consenso para a mediação do conflito, nem sobre a abertura de corredores humanitários na Faixa de Gaza para a passagem de alimentos, medicamentos, água, combustíveis e evacuação de civis, pedido reforçado, inclusive, pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Mas isso não significa que se deve abandonar a busca por uma solução diplomática. Pelo contrário: mais do que nunca, os países precisam se unir para pressionar por uma resolução pacífica deste conflito, e a comunidade internacional deve assumir um papel de liderança na busca pela paz. Isso significa pressionar por um cessar-fogo imediato e incondicional, para dar espaço à negociação. Também significa apoiar esforços de mediação, trazendo todas as partes envolvidas à mesa de negociações, mesmo que isso seja doloroso e demande concessões difíceis de ambos os lados. Dentro desse cenário, os esforços que o Brasil vem fazendo na busca por uma ampliação do diálogo e da mediação são louváveis.
É fundamental, também, entender que a paz não será conquistada sem Justiça. As preocupações legítimas de ambas as partes, como a segurança de Israel e os direitos do povo palestino, devem ser abordadas de maneira justa e equitativa. Além disso, os atos do Hamas e o uso desproporcional da força pelo Exército israelense devem ser investigados por comissões independentes e, eventualmente, ter seus responsáveis punidos. E todos os envolvidos, incluindo os países vizinhos e as potências globais, especialmente os Estados Unidos, têm de entender que todos vão precisar ceder em algum ponto para que o conflito se abrevie e seja alcançada uma situação tolerável para as populações civis, as principais vítimas do conflito até aqui.
À medida que lamentamos as vidas perdidas e o sofrimento infligido a tantas famílias na região, os países devem dobrar a aposta no diálogo e buscar incansavelmente uma solução pacífica. A diplomacia pode ser um caminho difícil, mas é o único caminho. A alternativa a ela é a continuação de uma guerra que tem levado a um custo humano inaceitável e a um futuro incerto.