Estamos na semana de anúncio dos ganhadores do Nobel. É impossível não se contagiar com a energia positiva envolta no prêmio. Os laureados são seres humanos que decidiram fazer algo pela humanidade e pela ciência. Gente que veio ao mundo com um propósito. Gente determinada a fazer a diferença e movida pela empatia, pelo senso de responsabilidade para com o próximo, pela busca do bem-estar coletivo. Nesses 26 anos de jornalismo, tive a honra de entrevistar alguns deles. Impressionou-me a humildade de muitos deles, mas também o discernimento de um trabalho voltado pelo próximo. Do seleto grupo de 110 indivíduos e 30 organizações, há exemplos claros de um compromisso pela paz.
A queniana Wangari Muta Maathai, falecida em 2011, fundou o Green Belt Movement ("Movimento Cinturão Verde") em seu país e comandou o plantio de 30 milhões de árvores. Conseguiu reverter a devastação ambiental mobilizando, principalmente, mulheres. Em 2004, ganhou o Nobel da Paz. Na época, trabalhava em um jornal de Goiânia. Minutos depois do anúncio do prêmio, falamos por telefone e, ao parabenizá-la pelo prêmio, Wangari deu uma gargalhada. Contou-me do esforço de sua luta pela preservação e creditou a láurea aos esforços das quenianas.
A liberiana Leymah Gbowee falou ao Correio, em 7 de outubro de 2011, dentro de um voo entre São Francisco e Nova York. A ativista que convenceu as mulheres dos soldados a aderirem a uma greve de sexo para forçar a paz na Libéria, imersa em um conflito civil, estava em êxtase. "Nós mobilizamos um grande grupo de mulheres para colocar fim à guerra. Isso foi feito por meio não violentos, por meios diferentes. (suspiro) Eu estou apenas chorando nesse momento. Oh,meu Deus…", dizia.
Leymah; Wangari; Shirin Ebadi, a advogada iraniana que lutou pelos presos políticos; Kailash Satyarthi, o indiano que se levantou contra o trabalho infantil; Muhammad Yunus, o banqueiro que tirou da miséria 12 milhões de cidadãos de Bangladesh. Eles e outros laureados famosos, como Barack Obama, Jimmy Carter, Kofi Annan, Yasser Arafat, Shimon Peres, Yitzhak Rabin e Nelson Mandela, devem servir de inspiração para anônimos escondidos em locais distantes da cobertura da imprensa.
Pessoas que mudam vidas em suas comunidades e preferem distância dos holofotes. Fazem o bem sem olhar a quem. Em menos de 48 horas, mais um laureado com o Nobel será anunciado. Há quem aposte na força das mulheres iranianas, ou nos nomes do líder opositor russo Alexei Navalny, do papa Francisco ou de Ilham Tohti, um economista uigur condenado à prisão perpétua na China. Mas o que marca o Nobel da Paz é o fator surpresa, a imprevisibilidade. O ganhador quase sempre surpreende.