Em novembro, o Brasil completará 134 anos como uma república. É uma história relativamente breve, em comparação com os outros países do mundo. Principalmente quando se leva em conta que período mais longo sem ditaduras da história do país é justamente o que vivenciamos, já que o autoritarismo, infelizmente, não é uma novidade na história política brasileira. Desde a redemocratização nos anos 1980, o país vem trilhando um caminho de progresso democrático, ainda que com solavancos aqui e ali, mas sempre com os civis no poder e os militares de volta aos quartéis – onde, afinal, eles pertencem.
Por isso, preocupa a falta de posicionamentos e ações por parte das Forças Armadas em repúdio aos atos golpistas de 8 de janeiro, a maior ameaça à estabilidade democrática nas últimas décadas. À medida em que as investigações sobre a destruição impetrada por uma horda bolsonarista na Praça dos Três Poderes avançam, tem ficado claro a participação de setores do Exército, da Marinha e da Aeronáutica na trama.
Essas duras revelações deveriam ser acompanhadas de uma condenação veemente dos envolvidos e de uma demonstração de compromisso com a democracia. Em vez disso, parece que a cúpula militar decidiu que o problema não é dela, quase como se estivesse tentando ignorar o ocorrido. Essa aparente indiferença à gravidade dos eventos de janeiro é inquietante. Tratar algo tão sério como corriqueiro é um sinal preocupante.
O mais surpreendente é o fato de que, em apenas quatro anos, o país tenha chegado a esse ponto de naturalização de discursos e ações antidemocráticas. A sociedade não pode permitir que a anestesia das consciências tome conta da sociedade. Por isso, o julgamento dos envolvidos no 8 de janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido marcante ao demonstrar o caminho que as instituições devem seguir no caso: repúdio total e punições exemplares para os responsáveis pela tentativa de golpe.
É possível que, diante da celeridade dos julgamentos no STF, os comandantes estejam esperando alguma condenação para, enfim, se pronunciarem e até punirem os militares que se envolveram na tentativa fracassada de tomar o poder à revelia da população. Mas essa letargia é um erro, que não só provoca uma corrosão constante na imagem das Forças Armadas para a sociedade brasileira, como enfraquece a necessidade de todos os setores da sociedade, incluindo os militares, trabalharem juntos para exercitar e proteger a república.
A democracia é o alicerce sobre o qual o país vem sendo reconstruído lentamente desde o fim da ditadura militar, e é dever de todos protegê-la a todo custo. É preciso lembrar das lições do passado e compreender que a estabilidade democrática não é algo garantido, mas sim conquistado com esforço e vigilância constante. Por isso, é fundamental que as Forças Armadas brasileiras reafirmem seu compromisso com a Constituição e com os valores democráticos que sustentam a república. É preciso ter transparência e responsabilidade, condenando publicamente a tentativa de golpe e punindo com rigor e firmeza todos os que se envolveram no ato. Nossa história nos ensina que a democracia no Brasil não é um mero acaso: é um tesouro frágil, que vem sendo construído dia a dia pela sociedade, e, por isso, é preciso assegurar que ela continue a prosperar no país.