Opinião

Visão do Correio: Por uma segurança pública inteligente

Ainda que ocorram operações pontuais, com a colaboração do governo federal e os governos estaduais, o problema da violência no Brasil permanece em estado crônico

O governo federal pretende lançar nesta segunda-feira (2) um plano de enfrentamento do crime organizado. Trata-se de uma iniciativa para fazer frente à atuação de facções que comandam uma ampla gama de ações ilícitas e violentas, além de imporem o regime do medo nas cidades brasileiras. A situação é mais crítica na periferia dos grandes centros urbanos, onde confrontos entre as forças de segurança e as hordas bandidas redundam em dezenas de mortes, muitas vezes de inocentes.

Ainda que ocorram operações pontuais, com a colaboração do governo federal e os governos estaduais, o problema da violência no Brasil permanece em estado crônico. Temos mais de 45 mil mortes violentas no país por ano, com pequenas variações ao longo do tempo. A considerar os números da violência brasileira, os esforços empreendidos pelo Poder Público, nos três âmbitos da Federação, têm mostrado resultado pífio. Em português claro: o Brasil é — e continuará a sê-lo por muito tempo — um país violento. A sensação de insegurança do cidadão que age dentro da lei já ultrapassa gerações, tal o nível de complexidade e abrangência que a criminalidade assumiu no território nacional.

É por essas razões, descritas brevemente acima, que se faz urgente uma ação mais eficaz no enfrentamento de quadrilhas. O secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, tem dito que o combate ao crime precisa se modernizar. E usa uma metáfora para descrever o cenário desafiador: “enquanto o crime organizado atua em ambiente digital, as forças de segurança ainda estão na era analógica”. Cappelli aposta em um Sistema Único de Segurança Pública, ou SUSP, para integrar União, estados e municípios na troca de informações e planejamento de operações conjuntas. A ideia é unificar as ações policiais, com um forte trabalho de inteligência.

Espera-se que essa nova tentativa encerre o histórico de tragédias que se perpetua nas grandes cidades brasileiras. Causam pesar e indignação ver imagens de mulheres, crianças e idosos fugindo, em plena luz do dia, do fogo cruzado entre bandidos e polícia nas ruas. É assustador observar bandos de marginais em treinamento de guerrilha ao lado de escolas primárias. É inadmissível que policiais sejam abatidos no cumprimento do dever de restabelecer a ordem. Não é mais possível tolerar estudantes ficarem impedidos de ir à escola, comerciantes serem obrigados a fechar as portas, mães angustiadas ficarem em vigília para saber se os filhos voltarão para casa.

Naturalmente, o enfrentamento da violência não constitui dever apenas dos chefes da segurança pública no Brasil. A violência é um fenômeno social de múltiplas causas, que precisa ser repreendido por meio de ações transversais e complementares. Combater a desigualdade e o desemprego, melhorar o acesso à educação, aprimorar a legislação e a política carcerária, ampliar o controle das fronteiras são algumas das ações paralelas para minimizar o uso da força contra o crime organizado. Espera-se que o plano de enfrentamento a ser anunciado em breve busque a segurança pública com inteligência, e não a continuação da barbárie.

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