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Envelhescência

Artigo: Envelhecer é inspirador

Faz tempo que entendi que viver enclausurada na juventude, achando que esta é a melhor fase da vida, é uma enorme bobagem. Todo o tempo que passamos por aqui tem sua primavera.

Darcy Bicalho, primeira esteticista de Brasília, que vive com intensidade e alegria seus 82 anos -  (crédito: Ana Dubeux/CB)
Darcy Bicalho, primeira esteticista de Brasília, que vive com intensidade e alegria seus 82 anos - (crédito: Ana Dubeux/CB)
postado em 22/10/2023 06:00 / atualizado em 25/10/2023 07:42

Estou naquela fase da vida em que beleza é conforto; exercício é prazer e a vida como um todo é uma dádiva. Chama-se maturidade, aquele ponto da curva que entendemos que envelhecer não é aquela tortura que nos fazem acreditar. Há prazer no passar dos anos — e muito.

Faz tempo que entendi que viver enclausurada na juventude, achando que esta é a melhor fase da vida, é uma enorme bobagem. Todo o tempo que passamos por aqui tem sua primavera. Para mim, foi até fácil porque convivo com pessoas que são inspiradoras.

Uma delas é Darcy Bicalho, primeira esteticista de Brasília, que vive com intensidade e alegria seus 82 anos. Além da dança, Darcy faz canoa havaiana cinco dias por semana e vai de casa até a escola — 45 minutos de ida e volta — pedalando a própria bike.

  • Socorro Vale
    Socorro Vale Ana Dubeux/CB
  • Darcy Bicalho
    Darcy Bicalho Ana Dubeux/CB
  • Hélio Brasil e Coy Oliveira
    Hélio Brasil e Coy Oliveira Arquivo Pessoal

Com dois filhos, três netos e uma bisneta, tem uma vitalidade e uma alegria de viver que impressionam. “Sou uma bisa diferente, empresária e esportista”, diz. A goiana que chegou a Brasília em 1959 fez história na capital e é um exemplo para todos que convivem com ela.

Socorro Vale, 87, é empresária em plena atividade. Leitora voraz de jornais, trabalha presencialmente todos os dias na própria loja, faz pilates, dirige seu próprio carro. Raimunda Macedo — tia de todos — mantém suas atividades e sua fé inabalável. Elizabeth Tourinho faz suas caminhadas sagradas todos os dias, cuida da casa, assiste a bons filmes com amigos. Hélio Brasil, 93 anos, arquiteto e autor de livros — recentemente, lançou o livro Da glória à piedade. Sua companheira de uma vida, a fotógrafa Coy Oliveira, 95 anos, mantém as tertúlias literárias com as visitinhas.

São muitas as pessoas do meu convívio que provam que o envelhecimento é uma dádiva, um convite a aproveitar as experiências e a sabedoria acumuladas ao longo da trajetória. Com eles, aprendo que a vida pode ser boa e produtiva em qualquer fase. Todos nós somos levados a ter medo do envelhecimento, mas não devemos nos deixar levar por essa crença perversa.

Viver cada dia, andar cada passo, aprender com cada pessoa são oportunidades para chegarmos à plenitude. Não troco por nada o aprendizado acumulado ao longo dos anos. A simplicidade, como as boas risadas com amigos, ganha status de grande programa. E nem custa nada. Assim como uma ida à livraria com a neta numa tarde regada a boas conversas com uma criança que está descobrindo o mundo.

Neste período, vamos descartando as bobagens e as pessoas que não importam à medida que o autoconhecimento se torna a maior das riquezas. Não precisamos de fórmulas de beleza plastificada nem de apego a conceitos ultrapassados quando conquistamos a grandeza de ser quem somos.

Por último, gostaria de deixar uma dica. Assista ao documentário Envelhescência, dirigido por Gabriel Martinez e com argumento de Ruggero Fiandanese. Narra a história de seis pessoas que vivem a vida com plenitude e bom humor após os 60 anos. As histórias são intercaladas com comentários de especialistas (Alexandre Kalache, Mirian Goldenberg e Mário Sérgio Cortella).

Guardem também uma frase da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, autora de A morte é um dia que vale a pena viver e Pra toda vida valer a pena viver, entre outros: “As pessoas morrem como viveram. Se nunca viveram com sentido, dificilmente terão a chance de viver a morte com sentido”.

Não perca e se pergunte: o que dá sentido à minha vida? Encontre a resposta e a cultive como uma bela planta. Darcy me contou, ontem de manhã, o que deixa sua vida repleta de sentido: “Eu amo a vida e sempre procurei fazer o que me dá prazer. Continuo trabalhando porque isso me dá prazer. E gosto de pessoas, tenho prazer nesse convívio”.

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