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EDITORIAL

Visão do Correio: Por mais Rebecas

A atleta que angariou cinco medalhas no Mundial de Ginástica da Antuérpia, na Bélgica, é, há algum tempo, exemplo para crianças de todo o Brasil, inclusive para aquelas das divisões de base do Flamengo, clube que ela defende

 Brasil's Rebeca Andrade competes on the Balance Beam in the Women's Team Final during the 52nd FIG Artistic Gymnastics World Championships, in Antwerp, northern Belgium, on October 4, 2023. (Photo by Lionel BONAVENTURE / AFP)
       -  (crédito:  AFP)
Brasil's Rebeca Andrade competes on the Balance Beam in the Women's Team Final during the 52nd FIG Artistic Gymnastics World Championships, in Antwerp, northern Belgium, on October 4, 2023. (Photo by Lionel BONAVENTURE / AFP) - (crédito: AFP)
postado em 18/10/2023 06:00 / atualizado em 18/10/2023 06:47

A cena do desembarque da ginasta Rebeca Andrade no Rio de Janeiro, no dia 9, é emblemática. A atleta que angariou cinco medalhas no Mundial de Ginástica da Antuérpia, na Bélgica, é, há algum tempo, exemplo para crianças de todo o Brasil, inclusive para aquelas das divisões de base do Flamengo, clube que ela defende, que a recepcionaram no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Com 24 anos de idade, Rebeca era como uma dessas jovens sonhadoras: fã de carteirinha de Daiane dos Santos, a ponto de ser conhecida na infância como a "Daianinha de Guarulhos". Mas quem a vê com tantas medalhas no pescoço pode não imaginar o quanto ela precisou batalhar até subir em vários pódios e estampar no rosto aquele sorriso que inspira tanta gente.

A história de Rebeca segue o roteiro da "saga do herói", que tanto mexe com os corações das pessoas. E que, ao mesmo tempo, demonstra o quanto é difícil, dentro de um país cuja cultura esportiva é voltada para o futebol, seguir os passos de referências como Daiane, Jade Barbosa e Arthur Zanetti. Não se trata apenas de resultados, mas de oportunidades. Situação que merece uma atenção especial das secretarias de esportes de todo o país e, obviamente, do Ministério do Esporte, que sucumbiu durante o governo Bolsonaro, retornou na terceira gestão de Lula e já coleciona cobranças e episódios polêmicos, como a saída da ex-jogadora de vôlei Ana Moser do cargo de ministra, lacuna preenchida pelo deputado federal André Fufuca (PP).

Um dos sete filhos da dona Rosa Santos, Rebeca contou desde cedo com o incentivo da matriarca, empregada doméstica e mãe solo, e também de uma tia. Aos 4 anos, entrou para a ginástica, por meio de um projeto da Secretaria de Esportes de Guarulhos, na Vila Tijuca. Cabia ao irmão mais velho levar a aspirante a ginasta aos treinos no ginásio Bonifácio Cardoso, em um percurso de duas horas de duração, a pé. Uma bicicleta ajudou a mitigar essa adversidade.

Aos 9 anos, teve que deixar a mãe e os irmãos e se mudar para Curitiba (PR) para prosseguir com seu sonho. Depois, trajando as cores do Flamengo, vieram melhores condições financeiras e de infraestrutura. Ao longo da carreira, porém, passou por três cirurgias de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho direito. Pensou em desistir. Prosseguiu, e o resto é história. Medalhista de ouro e prata na Olimpíada de Tóquio, em 2021, arrancou elogios da norte-americana Simone Biles, atleta mais vitoriosa da história da ginástica, com sete medalhas olímpicas e 30 em Mundiais.

O efeito Rebeca se assemelha ao de outros atletas brasileiros que obtiveram proezas: o de vários jovens se inscrevendo em escolinhas e projetos sociais voltados para alguma modalidade. Foi assim com o sucesso do tenista Guga, do boxeador Popó, do nadador Cesar Cielo, dentre outros. Mesmo assim, fica a impressão muitas vezes de que não se consegue manter uma constância para lapidação de jovens que almejam seguir esses exemplos e de que essas referências aparecem de tempos em tempos — não é regra e varia de esporte para esporte. Pouco (ou nenhum) patrocínio e investimento, carência de estrutura e falta de oportunidades são apontados muitas vezes como empecilhos. Exemplos de esportistas vitoriosos não faltam. Na última Olimpíada, o Brasil faturou 21 medalhas, sendo sete de ouro, seis de prata e oito de bronze, terminando em 12º no ranking. Em termos de resultados, imagina ir além.

Recentemente, o Ministério do Esporte abriu processo seletivo para municípios e estados apresentarem propostas de construção de espaços esportivos comunitários, por meio do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Seleções, com prazo até 10 de novembro. A previsão é de R$ 300 milhões de investimentos, do Orçamento Geral da União, para a construção de 200 espaços. Mas é necessário fazer mais para que tantas outras Rebecas e outros Zanettis emerjam e cada vez mais o país seja invadido por exemplos do esporte e de vida.

 

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