Design é o processo de criar algo que seja funcional, estético e agradável de usar. Ao criar e organizar elementos visuais e funcionais, o design ajuda a resolver problemas complexos, a atender necessidades das pessoas e a comunicar mensagens de maneira eficaz. Pense no layout de uma cidade planejada, como Brasília, que incorpora princípios de design para criar um ambiente urbano funcional e esteticamente agradável. Imagine o teclado do smartphone, com cada tecla projetada para ser funcional e intuitiva, permitindo comunicação com o mundo digital.
Apesar de ser uma ferramenta poderosa, que pode tornar nossa vida mais fácil, eficiente e agradável, o design pode servir, também, a objetivos menos nobres, como produzir propaganda para manipular as pessoas ou produtos que promovem o consumismo e resultam em poluição. A obsolescência programada é um dos melhores exemplos de mau uso do design. É uma estratégia de marketing que consiste em projetar produtos para que se tornem obsoletos ou inutilizáveis em um curto período, de forma a forçar os consumidores a comprar novos itens com mais frequência.
Produtos eletrônicos, eletrodomésticos e dispositivos, muitas vezes, se tornam obsoletos prematuramente devido a esse tipo de design impulsionado por interesses comerciais de curto prazo, o que resulta em impactos negativos para os consumidores e para o meio ambiente. De acordo com um amplo relatório sobre o tema, produzido pela ONU, em 2018, o mundo produziu mais de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico, um aumento de 21% em relação a 2014. Se nada for feito, esse número deve chegar a 120 milhões de toneladas por ano em 2050.
O lixo eletrônico é um problema ambiental sério, pois contém materiais tóxicos que podem contaminar o solo, a água e o ar. Além disso, o processo de reciclagem de lixo eletrônico é caro e complexo. Igualmente danoso é o design de roupas e acessórios voltado apenas para a estética e a novidade, o que leva ao consumo excessivo e ao descarte rápido de peças. O design de veículos, frequentemente, prioriza apenas o desempenho e o conforto, o que pode levar ao consumo excessivo de combustível, à emissão de gases poluentes e a dificuldades de reciclagem de componentes.
Esse padrão de produção e consumo segue uma lógica linear — produzir, consumir e descartar —, que não pode continuar indefinidamente. A ONU também alerta que a extração anual de matérias-primas da natureza triplicou nas últimas quatro décadas, com apenas 12% dos materiais daí derivados sendo reciclados. Além disso, mais de 50% das emissões totais de gases de efeito estufa e mais de 90% da perda de biodiversidade estão relacionados à extração de matérias-primas e ao processamento de materiais para atender ao consumo que cresce sem limites.
O design, frequentemente associado a causas pouco nobres, pode se revelar, no entanto, uma ferramenta poderosa na promoção da produção e do consumo sustentáveis. Estudos recentes demonstram que a fase de design pode determinar até 80% do desempenho dos produtos em termos de sustentabilidade. Cada vez mais, os designers de produtos estão avaliando o impacto ambiental dos componentes em todas as fases do ciclo de vida dos produtos. Eles priorizam recursos de baixo impacto ambiental e buscam inovações na fabricação que reduzem resíduos e facilitam processos como reutilização, reciclagem, design para desmontagem e reparo e design para extensão da vida útil.
A boa notícia é que o ecodesign e a economia circular ganham destaque como conceitos complementares que podem mudar os paradigmas correntes de produção e consumo. O ecodesign é uma abordagem que busca minimizar o impacto ambiental de produtos e serviços ao longo de todo seu ciclo de vida. A economia circular, por sua vez, é um modelo econômico que busca reduzir o desperdício e aumentar a reutilização e reciclagem de materiais em todos os ramos industriais.
Esse movimento demonstra que a possibilidade de reparo, atualização, remanufatura de produtos e melhoria da reciclabilidade dos materiais começa com o design do produto. E o designer desempenhará um papel fundamental na colaboração em cadeia necessária para desenvolver produtos e serviços que se encaixem no novo modelo econômico circular, de baixo impacto. A tendência é que o ecodesign se torne uma espécie de "copiloto" que oriente o desenvolvimento de produtos com foco em requisitos técnicos, econômicos, ambientais e sociais.
A integração entre o ecodesign e a economia circular é de extrema importância para o Brasil, país que possui uma base de recursos naturais robusta, mas finita. É imperativo que o país gerencie sua riqueza natural, atento, ao mesmo tempo, à competitividade da sua economia e à preservação do meio ambiente. Adotar práticas de ecodesign e economia circular ajudará a melhorar a imagem da indústria perante os brasileiros e a reputação do país perante mercados globais cada vez mais exigentes e regulados.
Para que essa integração seja eficaz, é importante que o governo, as empresas e a sociedade estejam envolvidos. É necessário criar políticas e regulamentações que incentivem a sustentabilidade, promover a conscientização e a educação sobre os conceitos de ecodesign e circularidade e apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis. Dessa forma, o Brasil poderá aproveitar ao máximo sua base de recursos naturais sem comprometer o futuro.
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