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Horror no oriente médio

Artigo: Briga de vizinhos

"É o horror pelo horror. Einstein disse que a Terceira Guerra Mundial será o momento das bombas atômicas. A quarta guerra será realizada com paus e pedras"

PRI-1510-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)
PRI-1510-OPINI - (crédito: Maurenilson Freire)
André Gustavo Stumpf - Jornalista
postado em 15/10/2023 06:00

*Por André Gustavo Stumpf - jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

Guerra não tem regras, nem moral. O que importa é vencer e esmagar o inimigo. Vale tudo. Na definição histórica de Clausewitz, é a continuação da política por outros meios. É a negação do diálogo. É o império da violência, momento de glória dos militares ansiosos por colocar em marcha suas máquinas de matar o maior número de pessoas no menor tempo. O grau de crueldade não importa.

O mundo já viu bomba atômica sobre Hiroshima, matança de judeus em níveis industriais na Alemanha nazista, morte de civis na Ucrânia e o rigoroso tratamento dispensado pelos que tentam entrar pelo sul dos Estados Unidos. Exemplos de mortes de civis nas muitas guerras que assolam o planeta são episódios
normais, consequências naturais do horror provocado pelo confronto bélico e do êxtase dos militares nacionalistas. Há uma guerra em curso no centro da Europa, coisa inimaginável depois da catástrofe provocada pela guerra na mesma Europa oito décadas atrás. A Ucrânia foi invadida pelos exércitos nazistas e depois pelo exército vermelho. Apanhou nas duas vezes.

E apanha mais agora, respirando por aparelhos para manter a esperança de vida independente e democrática. A história da Palestina é muito antiga, desde a diáspora dos judeus, por volta do ano 70 depois de Cristo. Houve a longa dominação romana naquelas terras, onde se localizam monumentos sagrados das três maiores religiões monoteístas do mundo: muçulmanos, judeus e cristãos. Um pulo na história indica que em 1096, por causa de grave conflito entre muçulmanos e cristãos, a Igreja Católica na Europa organiza a Primeira Cruzada. Tomaram Jerusalém, mas tiveram imensa dificuldade em manter o domínio.

Mas a guerra continuou e ofereceu a oportunidade do surgimento da ordem dos guerreiros monges, que rapidamente se organizou como segurança dos peregrinos. No Natal de 1119, na Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, foi criada a Ordem dos Templários, cujo objetivo era manter aberto o caminho para Jerusalém. Essa ordem religiosa ganhou muito dinheiro, descobriu um método para realizar transações bancárias, enviar moedas para outro país, construiu igrejas e oficiou missas. E se tornou rica e poderosa.

Os Templários se vestiam com uma túnica branca com uma cruz vermelha no peito — a Cruz de Cristo, a mesma que os primeiros navios portugueses ostentavam nas suas velas quando chegaram ao Brasil, mas isso é outra história. Os Templários foram derrotados pelos muçulmanos chefiados por Saladino. E a Ordem foi extinta em 1307 acusada de várias irregularidades. Seu líder, Jacques de Molay, foi queimado vivo em Paris.

Outro pulo na história vai mostrar no fim da Primeira Guerra Mundial o esfarelamento do Império turco-otomano. A área da Palestina, que era administrada pelo império desaparecido, foi entregue ao governo inglês. Ao longo do Mandato Britânico na Palestina, durante mais de 20 anos, palestinos e judeus conviveram em aparente calma um ao lado do outro, sem maiores conflitos. Com o início da perseguição de judeus na Alemanha de Hitler e nos países ocupados pelos nazistas no Leste Europeu, os perseguidos começaram a sair da Europa. Uns foram para a Inglaterra e de lá para os Estados Unidos. Outros seguiram para a Palestina, para buscar nova vida e lutar pela criação do Estado de Israel.

Havia movimentos nacionalistas palestinos e judeus naquela área. Mas os judeus se organizaram com dinheiro enviados pelos irmãos em todo o mundo e criaram a Haganah, antecessora do Mossad. A Haganah organizou o êxodo de milhares de europeus para o fundo do Mediterrâneo.

E influenciou a decisão da ONU, na histórica sessão presidida por Osvaldo Aranha, em 1947, que decidiu pela criação de dois estados, um judeu e outro palestino. Em 1948, Ben Gurion declarou a criação do
estado de Israel, que foi imediatamente bombardeado pelos seus vizinhos árabes. Os judeus acataram
a decisão da ONU, os árabes, não.

Hoje, os dois lados são governados por partidos extremistas, nenhum deles quer o diálogo. Os que tentaram foram assassinados. Ytzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, em 1995. Anwar Al Sadat, presidente egípcio, em 1981. O Hamas, que é um grupo terrorista, de fundo teocrático, ligada ao Irã,
não reconhece a existência de Israel.

A política de Israel é destruir os palestinos, relegando-os a uma existência sub-humana. O resultado é a barbárie. Falta capacidade de diálogo, de perspectiva de entendimento e de alguma razoabilidade nas ações dos dois lados. Resta o recurso da guerra, que é desastroso, horroroso, impiedoso, e não traz benefício a qualquer dos dois lados. É o horror pelo horror. Einstein disse que a Terceira Guerra Mundial será o momento das bombas atômicas. A quarta guerra será realizada com paus e pedras.

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