O jornalismo esportivo teve ajuda dos universitários nesta semana na pergunta final do Show do Milhão. O reitor da Universidade de Parma, na Itália, dedurou o pupilo Carlo Michelangelo Ancelotti Cavaliere ao homenageá-lo e encerrou o jogo de esconde: “Em 2024, Carlo Ancelotti tem uma aventura extraordinária que seria apenas um sonho para muitos técnicos: treinar o Brasil. É o primeiro estrangeiro nos últimos 60 anos que dirigirá a Seleção. O quarto na história”, discursou, referindo-se ao uruguaio Ramon Platero (1925); ao português Jorge de Lima, o Joreca (1944); e ao argentino Filpo Núñez (1965). Game over.
Há quem considere Carlo Ancelotti tradicional, conservador, convencional, preso dentro da caixinha para comandar a Seleção a partir de junho de 2024. Ou seja, na contramão do ousado Fernando Diniz. Vou dar cinco exemplos da capacidade do senhor de 64 anos, tetra e recordista da Champions League e campeão nacional na Alemanha, Espanha, Inglaterra, Itália e França de transformar jogadores e até tomar decisões impopulares no badalado Real Madrid.
Ancelotti perdeu Karim Benzema nesta temporada. Não houve reposição à altura para o ex-melhor do mundo. Vinicius Junior e Rodrygo não entregam a quantidade de gols do especialista francês. Porém, o técnico teve sensibilidade para perceber a intimidade do excelente meia inglês Jude Bellingham com as redes. O prodígio contratado por 103 milhões de euros virou “todocampista” na prancheta de Carletto. É volante, meia, atacante, centroavante, o artilheiro — e dono — do time na temporada com 10 gols e três assistências em 10 jogos. “Sou 10 vezes mais jogador do que na temporada passada (pelo Borussia Dortmund)”, testemunha o craque de 20 anos.
Vinicius Junior evoluiu porque, um dia, Ancelotti decidiu ser impopular. Hazard chegou para suceder Cristiano Ronaldo. O técnico respeitou a hierarquia. Escalou o belga como titular até respeitar o pedido de passagem de Vini. O brasileiro trabalhou, tomou a posição, fez o italiano mandar Hazard para o banco e foi recompensado com o gol do título da Champions, em 2022, contra o Liverpool. Vini mudou de patamar. Entregou 45 gols e 41 assistências nas últimas duas temporadas sob a batuta de Carletto. O “case” de Hazard sinaliza possibilidade de Neymar deixar de ser intocável.
Adversário do Brasil na próxima terça-feira pelas Eliminatórias, o meia Ernesto Valverde desabrochou com Ancelotti. O italiano o reinventou na função de falso ponta-direita ao lado de Benzema e Vinicius Junior no ataque campeão da Champions League. Deu certo.
Mais dois exemplos da capacidade do pupilo do senhor reitor para sair da caixinha na Seleção. O volante francês Camavinga vira lateral-esquerdo com Ancelotti em jogos grandes. E o Di María? Em 2014, não havia espaço para o argentino nas pontas do Real. O ataque tinha Bale, Cristiano Ronaldo e Benzema. O italiano extraiu o melhor dele como meia. Enganche. Bingo! Ganhou a Champions com os quatro juntos.
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