A reunião do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), sob a presidência do chanceler brasileiro Mauro Vieira, não conseguiu superar o impasse sobre a abertura de um corredor humanitário na Faixa de Gaza para retirada de civis, principalmente crianças, mulheres e idosos, muito menos quando a possibilidade de um cessar-fogo entre o Exército de Israel e o Hamas. O prazo dado por Israel para a retirada de 1,1 milhão de palestinos do setor Norte de Gaza se esgotou na noite de ontem.
Pouco antes de a reunião se realizar, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu reiterou a decisão de manter os bombardeios israelenses e realizar uma ofensiva por terra na Faixa de Gaza para eliminar os integrantes do Hamas e resgatar os reféns israelenses. Os Estados Unidos apoiam sem restrições o governo de Israel na realização aos ataques do Hamas de sábado passado, embora nos bastidores apoiem a criação do corredor humanitário, que depende também da concordância do Egito.
A reunião do Conselho de Segurança, a portas fechadas, não chegou a um acordo sequer sobre uma declaração conjunta dos seus 15 integrantes. Os países com direito de veto, Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e China não chegaram a um acordo. A negociação para aprovação de uma resolução, porém, não foi encerrada. A proposta apresentada pela Rússia, de um cessar fogo e libertação incondicional dos reféns, só deve ser votada na próxima semana.
Além do Brasil, o secretário-geral da ONU, António Guterres, está empenhado na construção desse acordo. Após a reunião, destacou que “até mesmo guerras têm regras”. Ele afirmou que direito humanitário internacional e os direitos humanos devem ser respeitados e cumpridos. Guterres reforçou que civis devem ser protegidos e não podem ser usados como escudos. O secretário-geral da ONU ainda pediu a soltura imediata de todos os reféns que estão em Gaza.
Guterres condenou os atos de violência pelo Hamas e a resposta das forças israelenses, que resultaram em milhares de vítimas na Faixa de Gaza e em várias cidades de Israel. Em relação à ordem de evacuação das autoridades de Israel para Gaza, o secretário-geral da ONU alertou que mover mais 1 milhão de pessoas em uma zona de guerra densamente povoada é “simplesmente impossível”.
A situação da Faixa de Gaza é dramática. Um único hospital ainda funciona, onze profissionais de saúde foram mortos e 34 instalações humanitárias foram atacadas, alguma das quais da ONU. Além disso, a população não tem abastecimento de água, energia elétrica e sua infraestrutura está sendo destruídas, porque estaria sendo utilizada pelo Hamas para manter sua rede de túneis e instalações militares subterrâneas.
Segundo o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 338 mil pessoas estão deslocadas, um aumento de 30% em apenas um dia. Mais de 218 mil estão abrigadas nas escolas da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestinos (UNRWA). Em Gaza, 2,5 mil casas foram destruídas e 23 mil foram danificadas. Até o momento, pelo menos 88 instalações educacionais foram atingidas, incluindo 18 escolas da ONU, duas das quais eram usadas como abrigos de emergência para deslocados, além de 70 escolas da Autoridade Palestina.
A única usina de energia ficou sem combustível e parou de funcionar, sete importantes instalações de água e saneamento que atendem a mais de 1 milhão de pessoas foram atingidas por ataques aéreos e sofreram danos graves. Há estoque de farinha de trigo apara apenas uma semana e 70% dos mercados já estão sem alimentos. As organizações humanitárias distribuíam pão para 137 mil pessoas deslocadas.
Nesse contexto, é muito preocupante a falta de consenso no Conselho de Segurança da ONU, embora as conversas prossigam informalmente, com objetivo de aprovar uma resolução sobre a guerra. O xis da questão é a condenação do atentado terrorista do Hamas, que a Rússia não aceita, e a proposta de cessar-fogo imediato, que os Estados Unidos não apoiam. O Egito aceitou a retirada de 28 civis brasileiros pela sua fronteira, como deseja o governo brasileiro, mas é preciso atravessar áreas sob bombardeio de Israel e controladas pelo Hamas.
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