Kibbutz de Kfar Aza. Quando as Forças de Defesa de Israel chegaram ao local, encontraram o horror inominável: 40 corpos de bebês, alguns deles decapitados. As mães tentaram, em vão, protegê-los. Em um vídeo cujo local da gravação não foi divulgado, os pais tentam confortar as filhas. Um homem armado com fuzil passa diante da família várias vezes. O pai das crianças está com as mãos sujas de sangue. Da outra filha, de 18 anos, executada na frente de todos. "Eu queria que ela estivesse viva", chora o menino. A irmãzinha questiona a mãe: "Minha irmã morreu! Não há chance de ela retornar?" A mulher, inconsolável, responde: "Não". Há medo no semblante de todos. Um dos extremistas aconselha os quatro a "relaxarem". "Ela foi para o céu", disse.
Kibbutz de Re'im, a 150m da Faixa de Gaza. Eram apenas jovens, se divertindo ao som de música eletrônica. Ao amanhecer, o horror. Foguetes, tiros, gritos, corpos tombando ao chão. o israelense Raziel Tamir, um dos sobreviventes, contou-me que viu os militantes do Hamas explodindo pessoas com lança-foguetes à queima-roupa. Em outro kibbutz, dezenas de corpos calcinados. Yoni Asher, 37 anos, disse ao Correio que soube que a esposa e as duas filhas foram sequestradas pelo Hamas por meio de um vídeo publicado nas redes sociais.
O nome disso é terrorismo, em sua acepção mais vil, bárbara, selvagem, hedionda. É completamente fora de lógica alegar que o Hamas estaria se defendendo ou vingando a opressão sofrida pelo povo da Faixa de Gaza. O que fizeram no sul de Israel é algo injustificável, condenável, repugnante e absurdo. Foram quase mil vidas ceifadas de forma brutal e impiedosa. Israel tem todo o direito de se defender, mas precisaria agir com a máxima cautela para evitar baixas civis. A imposição de um cerco total ao enclave palestino, onde vivem 2,4 milhões de pessoas, em sua imensa maioria sem nenhuma conexão ou simpatia pelo Hamas, soa como uma punição coletiva.
O atentado cometido pelo Hamas, comparável aos ataques de 11 de setembro de 2001, pode minar qualquer possibilidade de negociação de paz a médio ou longo prazo. Há quem dia que as perspectivas se exauriram na manhã do último sábado. Se o Hamas insiste em cometer atrocidades, a Autoridade Palestina, do presidente Mahmud Abbas, do Fatah, parece disposta a seguir o caminho de um diálogo agora improvável.
Antes mesmo do atentado de sábado, o lançamento de foguetes por parte do Hamas, a expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia e as operações militares israelenses na Mesquita de Al-Aqsa (em Jerusalém) afastavam a chance de uma solução para um conflito complexo em causa e demandas. Um conflito que corre o risco de se espraiar. Com o maior massacree sofrido por Israel desde o Holocausto, talvez o Oriente Médio nunca mais será o mesmo.
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